Doses maiores

11 de junho de 2018

WhatsApp e eleições: relações perigosas

Duzentos e cinquenta e seis. Este é o número máximo de pessoas que podem ser incluídos num grupo de WhatsApp.

Isso significa que um movimento como a recente greve dos caminhoneiros, convocado principalmente por meio do aplicativo, organiza-se de modo muito fragmentado.

Essa fragmentação reforça aquela que já existe na categoria devido a sua dispersão geográfica e às diferenças no tipo e nos regimes de trabalho que desempenham. A única coisa que os uniu, possibilitando uma ação muito rápida e eficiente, foi o abusivo preço do diesel.

Porém, na hora de negociar com o governo, a fragmentação tornou-se um obstáculo. Centenas de “comandos de greve” virtuais não se entendiam. Confusão aproveitada principalmente por grupos de extrema-direita, que dispararam enorme volume de informações imprecisas ou falsas via “zap”.

Pedro Doria, em sua coluna no Globo de 01/06/2018, acha que alguns desses grupos tentaram aproveitar-se da greve dos caminhoneiros para provocar um novo 2013. Não conseguiram, diz ele, mas:

...conseguiram outras coisas. Porque todo mundo que se inscreve nos grupos deixa duas informações essenciais. A primeira: é alguém que procurou, que está querendo notícias novas. E, em segundo, celular com DDD. Ou seja: origem geográfica. A turma do marketing de guerrilha construiu, na crise, um banco de dados bem fornido de pessoas crédulas, engajadas, que formarão o marco zero da distribuição de fake news durante a campanha eleitoral.

Cento e vinte milhões é o número de usuários do WhatsApp no Brasil.

Cento e quarenta e sete milhões é aproximadamente a população nacional de eleitores.

Os dois números se aproximam perigosamente. E as eleições também.

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