Doses maiores

1 de outubro de 2018

Na pós-democracia, a política comandada pela economia

Em seu livro “How Will Capitalism End?” (Como o capitalismo vai acabar?), o sociólogo alemão Wolfgang Streeck defende que há décadas vem ocorrendo uma dissociação entre democracia e economia nos países da OCDE. Vejamos:

Na era da inflação na década de 1970, as relações de trabalho eram a principal arena de luta, com greves muito frequentes. Os trabalhadores se envolviam em conflitos diretos com um adversário visível, os patrões.

Quando a inflação terminou, no início dos anos 80, as greves também cessaram e a defesa de interesses e direitos contra a lógica dos mercados mudou para a arena eleitoral.

Hoje, com a austeridade fiscal, a vida de milhões depende de decisões de bancos centrais, organizações internacionais e instituições semelhantes, atuando em um remoto espaço, isolado da experiência cotidiana e totalmente impenetrável para pessoas de fora dele.

A democracia deixou de ser funcional para o desenvolvimento econômico e, de fato, tornou-se uma ameaça ao desempenho do novo modelo de crescimento. Portanto, teve que ser dissociada da economia. Foi aí que nasceu a "pós-democracia".

Nas etapas acima, Streeck descreve a situação dos países da OCDE, na qual não nos encaixamos. Mas não é difícil enxergar estágios semelhantes em nossa trajetória do final da ditadura militar aos governos petistas.

Mas “pós-democracia” é um conceito que possivelmente faça sentido somente para sociedades que realmente viveram períodos de liberdades significativas. Em nosso caso, talvez estejamos mais para uma infindável transição pós-ditadura com inúmeros riscos de recaída.

De qualquer maneira, e com algum atraso, também chegamos à fase da política comandada pela economia.

Fundamental lembrar disso às vésperas de outra eleição.

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