Doses maiores

19 de setembro de 2019

O nivelamento social precedido pela barbárie

O Estado de Bem-Estar Social na Europa do Pós-Guerra seria um exemplo claro dos efeitos de nivelação social provocados pela guerra. Pelo menos, segundo o historiador Walter Scheidel, em seu livro “A Grande Niveladora”.

A Segunda Guerra exigiu imensos sacrifícios humanos e radicalizou as contradições sociais em cada país em que ocorreu. Também fez surgir a ameaça soviética ao domínio imperialista ocidental. Diante disso, prevaleceu o princípio da entrega de alguns anéis para salvar os dedos.

Mas o caso do Japão é outro exemplo importante. Terminada a guerra, o país foi ocupado por forças estadunidenses. Entre as medidas impostas pelos invasores, reforma agrária, liberdade de organização sindical, direito de greve, desconcentração do capital em poder da burguesia tradicional japonesa e impostos sobre os mais ricos.

Em mensagem pelo Ano Novo de 1948, o chefe das tropas invasoras, general MacArthur, declarou que sua missão no Japão era desmontar um sistema controlado “por uma minoria de famílias feudais e explorado em seu benefício exclusivo”.

Por trás das belas palavras e das medidas aparentemente louváveis da ocupação estadunidense, um grande objetivo: quebrar o sistema econômico que permitiu ao Japão montar sua máquina de guerra e impedir que o país voltasse a ameaçar os interesses ianques.

O autor parece acertar ao apontar a guerra como um importante fator de diminuição das injustiças sociais no Japão. Mas a um custo em vidas extremamente elevado, incluindo um covarde bombardeio nuclear.

Scheidel não chega a afirmar isso, mas o caso japonês é mais uma demonstração de que qualquer diminuição da desigualdade social sob o capitalismo costuma ser precedida pela mais terrível barbárie.

Leia também: A guerra como fator de igualdade social

Um comentário:

  1. Hummm... começou a ficar interessante. No caso japonês que cita, as forças dominadoras e vitoriosas que impõem a força das suas armas à derrotada. E veja que ironia, a burguesia vencedora não tem o menos apreço pelas conquistas sociais que lhe foram impostas nos seus países de origem (haja visto que até hoje não estão em paz com elas), mas só as faz para parecer detentora desses valores e justificar suas invasões (conhecemos bem esse filme). Seria só irônico se não fosse trágico. Bom o seu último parágrafo, tenho dúvida se precisamos passar sempre por barbáries para realizarmos conquistas sociais. Boa discussão, estou mais tendendo a concordar. Ando meio otimista cético. Bjs.

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