Doses maiores

15 de outubro de 2019

Amor ou trabalho não pago?

Silvia Federici é uma feminista marxista que tem coisas duras a dizer sobre a dominação masculina. Mas não tão duras como a vida da grande maioria das mulheres sob o capitalismo.

Italiana naturalizada estadunidense, uma de suas preocupações principais é o trabalho doméstico. Na verdade, trabalho gratuito, cujo principal produto é força de trabalho destinada à exploração pelos capitalistas. Na visão destes, as mulheres não passam de “fábricas de crianças”.

Para manter essa “produção”, elas trabalham fora de casa, mas não param de fazer o trabalho doméstico. Em entrevista à Folha publicada em 14/10/2019, afirma que as mulheres trabalham:

...à noite, de manhã cedo, aos domingos. (...). Trabalham cuidando de todo mundo, da casa, ajudando as pessoas a viver e ajudando as pessoas a morrer.

Por isso, diz ela, as “mulheres nunca se aposentam”. E quem se beneficia disso são “todos os empregadores”.

Para Silvia, até o sexo é parte do trabalho doméstico:

Não importa o quão cansada esteja, se é casada e seu marido quer fazer sexo, muitas de nós faremos sexo. Se dissermos não, muitas vezes eles nos obrigam. O que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago.

Quanto aos que são contra o direito ao aborto:

Essas pessoas só se importam com a vida do feto, porque elas não têm de pagar por ele, porque está na barriga da mãe, mas quando nasce, e precisa de cuidados, aí elas não se importam.

É assim que sexo e maternidade tornam-se funções brutalizadas de uma sociedade que reserva apenas fábricas e prisões como destinos para a maioria explorada e oprimida.

Leia também: Luta feminista e reprodução social

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