Doses maiores

6 de janeiro de 2020

A escravidão presente no nascimento do liberalismo

O trabalho escravo está presente em grande parte da história humana, adverte Laurentino Gomes no primeiro volume do que virá a ser a trilogia “Escravidão”. Mas:

A história da escravidão na América se distingue das formas mais antigas de cativeiro por duas características principais. A primeira é o regime de trabalho. No passado, os escravos eram usados em serviços domésticos...

No entanto, também podiam desempenhar funções especializadas como as de marceneiros, ferreiros, agricultores, guerreiros. Em alguns casos, diz ele, chegaram a ocupar altos cargos administrativos, como os de escriba e tesoureiro.

Já na América, afirma, tornaram-se sinônimo de trabalho intensivo em grandes plantações e na mineração. Seu trabalho era organizado “de forma muito semelhante às linhas de produção” que, mais tarde, caracterizariam as fábricas da Revolução Industrial.

A outra característica era uma ideologia racista, que passou a associar a cor da pele à condição de escravo. Uma doutrina sustentada por evidências “pretensamente científicas, que se referiam não apenas às diferenças relacionadas à cor da pele, mas também a alguns traços anatômicos peculiares”.

A questão é que essa ideologia começou a se mostrar contraditória em relação às ideias igualitárias que começavam a ganhar força quando os navios negreiros ainda atravessavam os mares. Era o liberalismo burguês, que tem no filósofo John Locke um de seus grandes formuladores.

Acontece que o próprio Locke era acionista da Royal African Company, cujo único propósito era traficar escravos. Um exemplo claro de como o discurso sobre liberdade, fraternidade e igualdade nunca se livrou do “sangue e da lama” que, segundo Marx, manchou o nascimento e ainda marca a sustentação do capitalismo.

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