Doses maiores

10 de janeiro de 2020

Contra a morte social, a comunhão das lutas

Em seu livro “Escravidão”, Laurentino Gomes cita uma definição de Orlando Patterson para esse tipo de servidão. Segundo o sociólogo jamaicano, a escravidão seria:

...uma “morte social”, na qual o cativo é arrancado do seu lugar de moradia, de sua língua, suas crenças, seus laços familiares e seus ancestrais, sua comunidade e seus costumes, uma espécie de desenraizamento, ou excomunhão da família e da sociedade originais.

Era necessário eliminar “sua identidade antiga para a construção de uma nova, dependente e condicionada pelo senhor”. Um processo que começava pela supressão dos nomes próprios.

Segundo Gomes, um “censo realizado em 1759 no território da atual Colômbia revelou que 40% de todos os escravos eram identificados com um único nome (como José, João ou Francisco). Outros 30% tinham “Crioulo” como sobrenome...”.

No Brasil, nunca houve uma pesquisa parecida, diz o autor. Mas “sabe-se que a realidade dos escravos era muito semelhante a essa”.

E, certamente, ocorreu o mesmo nos Estados Unidos. Afinal, não foi por outra razão que Malcolm Little abandonou o sobrenome imposto pelos antigos escravizadores de seus antepassados, tornando-se Malcolm X.

O fato é que mesmo com a escravidão tornada ilegal, seu objetivo maior continua a ser buscado pelos escravocratas contemporâneos. Não bastam as constantes agressões que resultam em mortes, mutilações, traumas e medo.

A “morte social” também continua a ser imposta a negros, indígenas e outras etnias não brancas. Ela acontece cada vez que são atacados seus modos de vida e tradições culturais milenares.

Mas, apesar disso tudo, a comunhão que é consequência das lutas de resistência política e cultural jamais deixou e deixará de acontecer.

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