Doses maiores

24 de março de 2020

Uma doença oportunista a espera do coronavírus

As recentes medidas de isolamento social devido ao coronavírus-19 não foram acompanhadas por nenhuma rede de assistência capaz de garantir a milhões de pessoas o mínimo necessário para sua sobrevivência.

Elas moram nos bairros pobres das grandes cidades e dependem da venda diária de seu trabalho ou mercadorias para comer. Não têm nada de seu a não ser seus filhos e contas para pagar. Suas condições sanitárias são péssimas.

Elas vão começar a passar fome. Vão adoecer ainda mais. Muitas vão se organizar para se defender. Para buscar atendimento prioritário para suas necessidades e atenção especial do sistema de saúde. Mas outras vão cair no desespero e deixar se levar pelo ódio cego. Devem ocorrer saques, arrastões, violência indiscriminada.

Para os assalariados com algum vínculo trabalhista, será menos pior, mas não muito. Os empresários e a grande mídia falam em “Plano Marshall” para a economia. O governo já sinalizou que entendeu a senha. Preparou um pacote para salvar lucros, não empregos. Haverá mais gente pronta a responder com ódio cego.

A resistência dos movimentos sociais estava paralisada. Agora, está completamente fragmentada. Há iniciativas importantes como as propostas de greves sanitárias dos petroleiros e metalúrgicos de São José dos Campos. Mas por enquanto são exceção.

Já os anticorpos da estrutura de repressão há muito vêm sendo fortalecidos. O combate ao coronavírus-19 não é só mais um episódio de militarização da vida. Sua dimensão totalizante é inédita e esmagadora.

Doenças oportunistas são aquelas que se aproveitam do estado de debilidade das defesas do organismo para causar dano. Há uma terrível doença oportunista no ar: é o capitalismo.

Leia também: A Doença X e seu maior hospedeiro

Um comentário:

  1. Muito bom. Meu medo não é exatamente a convulsão social, mas saber contra quem ela vai se dirigir. Não temos nenhum movimento organizado que possa dar direção para essa fúria que está por vir. E vemos o capitalismo tirar, como sempre, lucro da morte.

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