Doses maiores

7 de maio de 2020

O coronavírus e o fetichismo do aplicativo

Há alguns anos, vários cientistas passaram a entender que vivemos uma nova era geológica: o Antropoceno. Esse período se caracterizaria pelo forte aumento da influência de nossa espécie sobre o planeta.

Uma vez aceita essa caracterização, começam as polêmicas. Em seu livro “Homo Deus”, Yuval Harari considera que o Antropoceno corresponde aos últimos 70 mil anos, quando o Homo sapiens começou a extinguir inúmeras outras espécies animais.

Já outros autores consideram que esse período começou 12 mil anos atrás e corresponderia ao surgimento da agricultura, que teria possibilitado domesticar a natureza para melhor destruí-la.

Mas há ainda aqueles que consideram que o Antropoceno começou mesmo com a Revolução Industrial. Teria sido nesse momento que a humanidade iniciou um processo de destruição em escala semelhante à dos terremotos e erupções vulcânicas.

Por Revolução Industrial entenda-se nascimento do capitalismo. Um sistema que para produzir lucros destrói o que vê pela frente, incluindo vidas consideradas descartáveis e que são contadas cada vez mais aos bilhões.

Ora, no capitalismo, impera o fetichismo da mercadoria. Essa metáfora criada por Marx descreve uma sociedade onde são as coisas, transformadas em mercadoria, que estabelecem relações sociais, não as pessoas.

Pois bem, cá estamos em plena crise causada por um vírus surgido da selvageria capitalista em seu processo de destruição ambiental. Produto acabado do Antropoceno.

Foi assim que atingimos um estágio da humanidade em que nos isolarmos fisicamente uns dos outros tornou-se medida obrigatória para tentar garantir nossa sobrevivência biológica.

E é assim que chegamos a um momento em que literalmente passamos a nos relacionar quase exclusivamente por meio de coisas. Coisas digitais, mas coisas.

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