Doses maiores

2 de agosto de 2022

Junho de 2013: erros petistas, limitações da esquerda

Voltando ao livro “Do transe à vertigem”, de Rodrigo Nunes, o autor entende que Junho de 2013 apresentou no Brasil uma particularidade em relação ao ciclo de protestos que ocorreram no mundo todo, em 2011.

Segundo ele, fomos o único país em que os meios de comunicação e parte da direita passaram não apenas a apoiar os protestos, mas também a mobilizar-se em seu favor e tentar imprimir-lhes sua própria agenda.

Assim, quando finalmente o caráter das manifestações se definiu, para muitas pessoas prevaleceram os contornos que a direita lhes deu. Essas pessoas não eram necessariamente de direita, elas se tornaram. A derrota da esquerda ocorreu justamente aí, diz Nunes.

O limite da esquerda não petista naquele momento era que ela havia desencadeado algo suficientemente forte para obrigar o governo a responder, mas não para levá-lo a tomar esta ou aquela direção.

Enquanto isso, afirma ele, entre o certo e o incerto, o petismo preferiu assumir o papel de defensor do sistema e optar pela desqualificação retórica e repressão física das manifestações.

Na ausência de uma via institucional pela qual os protestos pudessem ser canalizados, e diante de ofensiva da direita, a esquerda das ruas viu-se diante de um impasse: ou abandonava o processo sob o risco de sua apropriação pela direita, ou sustentava uma mobilização sem perspectiva de resolução no horizonte, arriscando fortalecer as forças conservadoras, do mesmo jeito.

Com a esquerda não petista neutralizada e o PT cada vez mais identificado com o establishment, o caminho ficaria livre para que a direita pudesse se reivindicar como legítima herdeira de 2013.

Novamente, fica difícil discordar.

Leia também: Junho de 2013: os erros do PT

6 comentários:

  1. Observação interessante da particularidade brasileira da direita entrar no movimento. Não concordo q alguém tenha vindo a se tornar de direita a parti daí. Volto a concordar q o movimento não tinha algo suficientemente forte a propor, mas isso era a razão e o entendimento q os agentes do movimento achavam correto e o q tinham a propor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom, ele diz que para algumas pessoas os contornos de direita prevaleceram. Agora, que essas pessoas assumiram mais claramente as bandeiras da direita me parece correto, assim como podem ter assumido alguns princípios de esquerda em eleições anteriores. Quando ele diz "se tornaram" entendo que também quer dizer que podem voltar a assimilar princípios de esquerda. Difícil definir grandes contingentes de pessoas como sendo de direita ou de esquerda fixamente. Só minorias podem ser caracterizadas desse modo, à esquerda ou à direita. Quanto ao resto, a esquerda nunca conseguiu apresentar um projeto para além das reações ao que o PT fazia ou deixava de fazer no governo. No livro ele fala que essa atitude se expressava na pergunta que o movimento fazia aos petistas: "De que lado vocês estão?", como se já não estivesse claro.

      Excluir
    2. Boa resposta. Ok, o se "tornaram" é muito forte mesmo, vc acertou contemporizando a frase. Serginho, quanto a esquerda em geral eu concordo, quanto a esquerda que lançou, hegemonizava etc, o nome que preferir, era um tipo de esquerda que eu classificaria sem muito conhecimento como autonomista. Era o MPL, e eles tinham essa prática e política. Achei super importante esse movimento (muitos associaram ao maio de 68 mas não acho a mesma coisa), caberia à esquerda não petista participar desse movimento (chegaram muito tarde, praticamente junto com a direita), e a petista dialogar com ele. Bem, análises não faltam e acho que ainda faltam sobre o Junho de 2013, talvez como a maior insensibilidade política em geral da esquerda no Brasil.

      Excluir
    3. "A maior insensibilidade política em geral da esquerda no Brasil". É isso mesmo. Concordo

      Excluir
  2. Permite a opinião de um maluco? Eu sou paranoico como um conspiracionista ( devo ter sido um nos longínquos anos de 1605...). Veja: quando li (mal e porcamente) Algirdas Julius Greimas, eu sabia que o processo de dominação seria conduzido para uma tal sofisticação que a palavra, o discurso midiático, teria força hipnótica. Pesquisem ai a propaganda de carro na qual Falcão (do Rappa) chama o povo pra rua... (E olha que hoje nem é dia de estar bêbado...rsrsrs)

    ResponderExcluir