Doses maiores

11 de novembro de 2010

Universidade: negros pela porta dos fundos

O Estatuto da Igualdade Racial acaba de ser aprovado. Ficou valendo a proposta do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O mesmo que afirmou que o estupro de escravas negras aconteceu “de forma muito mais consensual”.

Coerente com o racismo dessa afirmação, o senador tirou a palavra “raça” do Estatuto. Alega que não há raças na espécie humana. É verdade. Mas isso não impede a existência do racismo. E este saiu fortalecido com a proposta aprovada. Ela deixou de fora iniciativas importantes, como os programas de saúde pública voltados para a população negra e as políticas de cotas.

No caso das cotas nas universidades, dados recentemente divulgados poderiam justificar sua exclusão do Estatuto. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, o número de “pretos ou pardos” com nível superior dobrou desde 1999. Um problema: apesar do aumento, a proporção dos dois grupos ainda representa um terço do total de brancos graduados.

Outro problema: um estudo do antropólogo José Jorge de Carvalho diz que 45% dos alunos beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) são pretos ou pardos. Para o professor da Universidade de Brasília, esta teria sido a principal razão para o aumento do número de graduados entre a população negra.

O Prouni é mais um daqueles golpes geniais do governo Lula. Através de bolsas de estudo, o programa preenche as vagas ociosas de cursos menos concorridos da rede particular. Faz de conta que está investindo no ensino superior para os mais pobres. Na realidade, financia os empresários da educação. Ao mesmo tempo, pode exibir estatísticas bonitinhas sobre a população negra. O racismo brasileiro agradece.

Leia também: Um racista escreve a lei contra o racismo

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