Doses maiores

16 de março de 2011

Omelete radioativo

A grande imprensa vem elogiando o comportamento do povo japonês. Diante da enorme tragédia que atingiu o país, sua população dá lições de ordem e organização. Até agora, essa avaliação parece correta. Combina com a visão que temos da sociedade nipônica: milenar e sábia.

Mas, como explicar que um povo tão ordeiro e racional tenha aceitado a construção de usinas nucleares em seu território? São 17 usinas e 55 reatores instalados sobre um terreno que vem tremendo há milhares de anos.

Aparentemente, a culpa é da enorme dependência de energia que o país desenvolveu. Não são apenas seus 127 milhões de habitantes vivendo em uma área pouco maior do que o Mato Grosso do Sul. O país também é um dos mais ricos do planeta. Vítima fácil do consumismo que impera em outras sociedades igualmente prósperas. Daí, a fome por eletricidade, petróleo, gás.

O fato é que a respeitável tradição milenar do Japão não impediu que seu povo fosse vítima da lógica suicida do mercado. Além disso, o Wikleaks acaba de divulgar vários documentos reveladores. Eles mostram o descaso em relação à segurança das usinas nucleares. Denunciam a irresponsabilidade das empresas que administram as instalações atômicas. Corporações que deixaram de adotar medidas de proteção contra riscos para não diminuir seus lucros.

Ovos de plutônio depositados num solo movediço e chocados pela cobiça capitalista. Uma combinação nada recomendável.

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