Doses maiores

27 de abril de 2011

O PT magoou os tucanos

O PSDB está em crise profunda. Um recente artigo de FHC só piorou a situação. Publicado em 18 de abril, o texto ficou famoso pelo seguinte trecho:
Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os "movimentos sociais" ou o "povão", isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos.
Os petistas denunciaram o elitismo e a arrogância dos tucanos. E estes renegaram o texto de seu velho líder. Mas, o documento faz todo sentido. No trecho abaixo, FHC propõe conquistar:
...toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de "classe C" ou de nova classe média.
O raciocínio é o seguinte: os tucanos não têm chances junto ao “povão” e aos “movimentos sociais”. Hoje, grande parte desses eleitores vota na proposta lulista. Portanto, o PSDB só pode aumentar sua influência da “classe C” para cima, em que sua aceitação vai melhorando conforme se aproxima da elite.

Por seu lado, Lula defende quase o mesmo em relação a seu partido. Em reunião com prefeitos petistas em São Paulo, em 19/04, ele propôs que o PT procure atrair setores como as classes médias e os empresários. Afinal, o partido já conta com o apoio de boa parte dos de baixo. Agora, precisa se aproximar dos de cima.

É este “meio de campo” que FHC quer disputar com Lula. A vantagem é grande para os petistas por um motivo que o ex-presidente tucano aponta em seu documento. Ele reclama que o PT roubou o lugar dos tucanos na política nacional. O PSDB queria ser o partido social-democrata brasileiro. O PT conquistou essa posição. É o que dá a entender a passagem abaixo:
... se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem a construção da estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os “campeões nacionais” – as empresas que se globalizam – isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 2002 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos.
O trágico é que há décadas os partidos social-democratas vêm governando segundo a receita neoliberal. O cômico é que só faltou FHC fazer beicinho e dizer: “magoei!”

Leia também: Nova classe média ou só mais consumidores?

2 comentários:

  1. Lembrando que esta nova classe média vem formando opinião no Brasil.Nas ultimas três eleições, por exemplo, as classes D e E seguiram ela e não a B ,que sempre foi a classe formadora de opinião no regimes clássicos "liberais".O incrvél disso é que esta nova classe C não tem ideologia,ele consome muito - como vc já diz em seu outro texto. E na minha opinião socialmente e intelectualmente ela não se emancipou ,apenas economicamente.

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  2. É verdade. O próprio André Singer, petista de carteirinha, teoriza sobre essa faixa populacional, atribuindo-lhe uma apatia política que a torna alvo fácil para os conservadores.
    Abraço

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