Doses maiores

18 de outubro de 2011

Vexames da esquerda estatal

Entre 8 e 9 de setembro aconteceu um encontro em Buenos Aires promovido por “Capital Intelectual” e “Le Monde Diplomatique”. Sami Nair, professor da Universidade Pablo de Olavide de Sevilha, participou do evento. Em artigo publicado no jornal El País de 13/10, ele comentou:
Quanto às revoluções na Tunísia e no Egito, nos inteiramos pela boca de intelectuais vindos da Venezuela, do Brasil e inclusive da Argentina, de que estas não eram mais do que “movimentos sociais violentos” e de maneira nenhuma revoluções.
Diz Nair que tais setores acusaram os defensores das “revoluções árabes” de “complacência com o imperialismo ocidental”. E que:
...tudo parecia transcorrer como se, ao defender essas revoluções, nos dispuséssemos, sem sabê-lo, a aceitar possíveis intervenções imperialistas contra certos regimes atuais da América Latina.
Referindo-se à Líbia, Nair chama de “piada de mau gosto” a defesa que tais representantes da esquerda latino-americana fizeram de Kadafi como “amigo das revoluções”. E concluiu:
Esses “revolucionários” estão na realidade mais próximos da razão de Estados dos regimes que defendem do que da solidariedade com os oprimidos.
Ou seja, é muito provável que se trate de apoiadores de Dilma, Chávez e Cristina Kirchner. Antigos militantes e atuais ocupantes de postos num Estado que pensam controlar. Sempre dispostos a defender seus “governos de esquerda” acima de tudo. Inclusive, de levantes populares contra ditaduras sangrentas.

Claro que o imperialismo está intervindo nos acontecimentos do norte da África e Oriente Médio. Mas daí a defender ditaduras como a da Líbia há uma enorme distância. Consequência da crença estúpida de que socialismo do século 21 será produto de ações de cima para baixo. Vergonhoso!

Leia também: As duas posses de Evo Morales

9 comentários:

  1. Eu estou achando que vergonhoso é seu texto!
    Era dever da esquerda ocidental defender a ditadura do Kadafi e não apoiar movimentos revoluCiOnários, quen nem existia na Líbia!

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  2. Há vergonhas e vergonhas. Eu teria vergonha de defender qualquer ditadura. Tenho certeza de que Kadafi era um ditador. Difícil é afirmar que não há movimentos revolucionários na Líbia. Eles só podem existir na "esquerda ocidental"?

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  3. É quase impossivel nascer movimentos revolucionários com força para vencer dois inimigos tão forte como se tinha (ou tem hoje).

    Estratégia política para Líbia deveria ser o que o PC unificado da Síria propos e não essa aliança com deus, o diabo e todo mundo contra a ditadura do kadafi.

    Os movimentos revolucionários,apesarem de despolitizados, os mais evoluidos estão no Ocidente.Onde está as organizaçõea amigas da revolutas?

    Sobre as esquerdas estatais, no caso da Venezuela: eles sabem o que o isolamento fez com a URSS, potanto a tentativa é um projeto alternativo e a Líbia era um parceiro estrátegico.Não tinha como apoiar a transição, chamada de revolução(o bolo já tinha sido dividido),assim fez um opção ariscada de defender kadafi e agora parece ser repetir no caso sírio.

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  4. Se é quase impossível nascerem movimentos revolucionários hoje, desistamos da revolução. Nossos inimigos seguem sendo os mesmos que há 150 anos, apesar de assumir formas diferentes. Continuamos sob o capitalismo. Não era mais fácil derrotar o czarismo e a burguesia unificados do que é hoje em relação à burguesia apoiada em democracias parlamentares. Os desafios é que são outros.

    Não tenho conhecimento de nenhuma aliança com “deus e o diabo” envolvendo organizações revolucionárias. Só oposicionistas oportunistas financiados pela CIA. Aliás, quem costuma fazer esse tipo de aliança são os PCs, com honrosas exceções como a do PC brasileiro. Houve uma intervenção criminosa do imperialismo via OTAN na Síria. Mas isso não implica apoiar os crimes de Kadafi. Assim como não era possível apoiar Saddam contra as tropas ianques.

    O Revolutas tem organizações amigas em lugares como Egito e Nova Zelândia. Mas o que tem a ver a crença na capacidade revolucionária dos povos em geral, independente de seu lugar geográfico, com nossas ligações internacionais? Não somos o partido revolucionário do proletariado mundial. Se não somos mais integrados mundialmente, a culpa é nossa e da esquerda brasileira, não dos povos que estão em luta no mundo todo.

    A União Soviética se isolou de vez quando se tornou esquerda estatal. Não foi uma opção para defender a revolução, mas para enterrá-la. Estado e revolução socialista não se combinam, como Lênin deixou claro em seu livro “Estado e Revolução”. Chávez e Morales são governantes que merecem nosso apoio, mas não lideram governos revolucionários.

    O caso sírio é ainda pior. Um estado tão autoritário quanto o líbio que serve ao equilíbrio da região. Tanto é que Israel e Estados Unidos temem pela queda do sanguinário Bashar al-Assad.

    Abraço

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  5. Eu falei que era impossível nascerem movimentos revolucionários que conseguissem fazer a revolução era na Líbia, devido às condições que o regime kadafi, a região e a conjuntura atual nós dá.
    Mas para vcs a soberania nacional não representa nada né? Hoje apesar da crise dos estados nacionais, estes são referências de identidade nacional para seus povos. Não dá para igualar o regime nacional burguês de kadafi com o imperialismo internacional. Como humanista tenho obrigação de ficar ao lado do que esta sendo oprimido!
    As alianças são necessárias, alias avançamos só com elas. Com esse purismo esse moralismo ficaremos no gueto. Ai surge às ideias brilhantes de luta armada, terrorismo libertário, movimentos estudantis se pautam por bandeiras de "maconheiros" - onde a grande maioria do estudante posiciona sobre a temática com reproduções e preconceitos, sendo que essas pautas jamais vai ser o interesse da maioria e etc...
    Alianças com "deus e o diabo" são coisas dos PCs? Perai, o PC brasileiro que sei apoio o Vargas, também defendeu uma via pacifica para derrotar a ditadura militar e hoje o PC que defendeu a luta armada hoje se aliou ao grande capital e as forças mais conservadoras do campo brasileiro.
    (1) Tenho certeza que as bases do Partidão apoiavam Vargas no "Queremismo"
    (2) Se temos o PCB como reformista durante a ditadura militar, temos a coragem e os sacrifícios da turma de Amazonas e Grabois que resolveu arriscar na luta armada rural, devido às condições que o Brasil ofereciam!
    (3) Mesmo que o PC do B não pode ser chamado de comunista mais pra que conhece do assunto, porém eles não negam que luta pelo socialismo: no sentido que temos que desenvolver o capitalismo e criar condições no plano internacional devido a atual correlação de forças. Socialismo precisa de condições materiais avançadas para triunfar. E muito mais complicado fazer socialismo num país, as revoluções do século XX mostra isso por isso as alianças com regimes não humanistas como os idealizados pelos "stalinistas ressentidos".

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  6. Não acho que seja impossível nascerem movimentos revolucionários em lugar nenhum. Onde houver exploração e opressão, eles surgirão. Pode ser impossível que cresçam e sejam vitoriosos. Disso estamos cheios de exemplos.

    A luta por soberania nacional é importante. Mas adotá-la como bandeira exige cuidados como o de não incluir setores burgueses nessa luta. E não sei o que tem a ver Kadafi com soberania nacional. Ele financiou a campanha eleitoral de Sarkozy. Aliou-se a Toni Blair e apoiou a “Guerra ao Terror” de Bush. Contou com ajuda da CIA para aprisionar seus oposicionistas. Como humanista, nunca ficaria ao lado de Kadafi, pois isso significaria ficar contra os oprimidos.

    Alianças são necessárias, sim. Mas nunca com ditadores sanguinários.

    Nunca defendemos lutar armada, muito menos terrorismo libertário. Ou se é terrorista ou libertário. Os dois não combinam. E falar em preconceitos chamando os estudantes de “maconheiros” também não parece nada coerente.

    Eu disse que o PCB é uma exceção. Qual é nossa discordância nisso?

    Já o PCdoB pode falar em socialismo à vontade. Enquanto se aliar ao agronegócio não passará de linha auxiliar de capitalistas do pior tipo. Nada a ver com o exemplo heróico dos mortos do Araguaia.

    Não é “muito mais complicado fazer socialismo num país” . É impossível. E são exatamente as revoluções do século XX que mostram isso. Em nome do “socialismo num país” foram feitas alianças com a burguesia, entre eles o ditador Vargas.

    Companheiro, seria bom que você lesse nossos textos antes de nos atribuir coisas que nunca defendemos. Do contrário, não é um debate. São ataques sem fundamento. Muitos de nossos textos estão em revolutas.provisorio.ws/index.php.

    Abraço!

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  7. "Impossivel existir socialismo num só pais".

    A transição para o socialismo tem que considerar que os povos amadurecem e tem esperiências diferentes, até por que tem as fronteiras nacionais.

    Alias que eu sei Marx e Engles nunca profeciaram como seria feita a construção do socialismo: construção de uma sociedade socialista deveria partir de condições materiais históricas já dadas.

    Alias vc esqueceu que Kadafi, foi aliado do socialismo sovietico,construi um sistema nacionalista, baseado num socialismo islâmico apoiando grupos de resistência também chamados de terroristas.Sem contar que era um aliado do nacionalismo revolucionário latino.

    Alias faltou um último dado: não fugiu, preferiu morrer no campo de batalha, ao contrário de alguns pseudo-revoluinários que viveram por ai até poudo tempo!

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Definitivamente, não nos entendemos quanto a conceitos como socialismo e revolucionarismo.
    Abraço e obrigado pelos comentários.

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