Doses maiores

28 de novembro de 2012

Enem, mercado e racismo da inteligência

“Instituição paulista montou turma de ‘elite intelectual’”, diz notícia do Globo publicada em 27/11. Segundo a matéria, o Objetivo Colégio Integrado “tem aulas em período integral, ministradas por professores selecionados, em salas com poucos estudantes”. Resultado? Primeiro lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011. Enquanto isso, das 50 escolas melhor colocadas no exame, apenas três são públicas.

Tudo isso tem pouco a ver com qualidade de ensino. Aparecer no topo da classificação do exame garante a cobrança de mensalidades caras. O Objetivo, por exemplo, cobra 1.800 por mês. Mas há aquelas, como o Vértice, cuja mensalidade ultrapassa os R$ 3 mil.

Para turbinar seu desempenho, muitas escolas particulares colocam para fazer a prova apenas alunos que estão acima da média. No exame de 2010, por exemplo, 60% dos estabelecimentos tiveram menos da metade dos alunos no Enem. E em apenas 7,6% deles mais de 90% dos alunos fizeram o exame.

Ou seja, quatorze anos depois de criado pelos tucanos, o Enem se consolida como mecanismo de disputa de mercado. Mas este é não é o pior lado do exame. Essa forma de classificação também vai impondo um modelo de educação restrita, elitista e voltada para o mercado. Vai reforçando o que Pierre Bourdieu chamou de “racismo da inteligência”.

Segundo o sociólogo francês, trata-se de um tipo de discriminação “característica de uma classe dominante cujo poder repousa em parte sobre a posse de títulos que, como os títulos escolares, são considerados como uma garantia de inteligência”. Na verdade, mais uma forma de justificar a dominação e a exploração da maioria pela minoria.

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