Doses maiores

13 de novembro de 2012

Uma “classe média” para a população negra

“Negros já somam 52% da classe média brasileira” diz título de reportagem de Sergio Leo, publicada pelo jornal Valor, em 09/11. Os números são da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada à Presidência da República.

O órgão se especializou em divulgar números que fazem acreditar que o País se aproxima rapidamente de uma situação de invejável justiça social. Mas a realidade verificável no dia a dia não parece levar a tal conclusão. Muito provavelmente, trata-se de problemas de metodologia.

Para a SAE, são de classe média famílias com renda entre R$ 291 e R$ 1.019 por pessoa. Os valores já são questionáveis por si só. Mas, além disso, a definição não considera outras variáveis, como acesso a certos serviços e direitos, nível de escolaridade etc.

A própria reportagem avisa que a definição adotada pelo governo “pouco tem a ver com o conceito sociológico de ‘classe média’, tradicionalmente ligado aos chamados trabalhadores de ‘colarinho branco’ e nível médio de instrução”.

Afinal, diz a matéria, 64% dessa nova “classe média” tem, no máximo, ensino fundamental completo. Por outro lado, o extrato populacional que mais contribui para o aumento desse setor intermediário é formado por negros.

Segundo a SAE, em 2002, a população negra correspondia a 31% dessa nova “classe média”. Em 2012, ela teria chegado a 52%.

Resumindo, é bem provável que uma grande parte da população que ganhou renda nem por isso conquistou melhores condições de vida. Não à toa, a maioria dessa parcela é formada por negros. O racismo brasileiro continua muito eficiente.

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