Doses maiores

26 de julho de 2011

A China não é alternativa

Com a economia mundial tendo crises intestinais, muita gente aponta a China como alternativa. Como se o gigante asiático também não estivesse enroscado na enorme confusão. E não se trata apenas da dependência em relação à economia estadunidense.

Há os que acreditam que a China não é capitalista. Impossível concordar. E há os que dizem que se trata de outra forma de gerenciar o capitalismo. Talvez, tenham razão. Vejamos alguns dados publicados na revista CartaCapital de 06/07:
De 1999 a 2009, a participação do Estado na produção industrial em termos de valor caiu de 49% para 27% (...). Em 1999, as firmas controladas pelo governo detinham 67% do capital industrial; uma década depois, sua participação caiu para 41%. (...)
Mas:
O governo chinês tem apertado o controle sobre algumas indústrias que considera "estratégicas", de petróleo e carvão às telecomunicações e equipamentos de transporte. O governo tem elaborado regras de acesso ao mercado que favorecem as estatais. (...)
Das 42 companhias da China Continental presentes na lista das 500 maiores empresas do mundo da revista Fortune em 2010 apenas três não são de propriedade do governo. (...). Em 2010, (...) das cem maiores firmas chinesas com capital aberto, 75 eram monitoradas pelo governo.
Ou seja, diferente do modelo neoliberal, há um forte controle estatal da economia. Mas, a produção está voltada para o mercado externo. Se este fraquejar, abala a economia chinesa. Uma desaceleração na China, por sua vez, afetará toda a economia mundial.

É por isso que Jin Canrong, professor da Universidade do Povo de Pequim, declarou recentemente: “A China não quer alcançar alguma coisa. Quer evitar coisas ruins. Somos potência do status quo (Folha de S. Paulo - 19/07)”.

Mas, se pode haver dúvidas sobre o caráter do capitalismo chinês, não é o caso quanto ao papel da classe trabalhadora nele. Vejamos o que diz a socióloga chinesa Pun Ngai sobre o sistema de fábrica na China:
É um sistema de controle totalitário da produção e da reprodução. A área onde foram construídas as instalações da Foxconn na China ocidental é um enorme parque industrial. Foram destruídos mais de 100 vilarejos para construir essa área. Os agricultores perderam a terra e as casas, mas a Foxconn não os contrata, porque quer operárias e operários jovens, nunca acima dos 30, 35 anos, enquanto os agricultores são de meia-idade (leia mais aqui).
A socióloga também avisa que multiplicam-se as greves e revoltas operárias. Diz que são comuns fábricas com mais de 100 mil trabalhadores.

O gigante asiático não é alternativa ao capitalismo. É seu complemento baseado no máximo de exploração. Pode provocar reações dos explorados na mesma proporção.

Leia também: Estados Unidos mais baratos que a China?

2 comentários:

  1. E tem ainda aqueles que dizem que o que faltava para a China no tempo do "socialismo" era o capitalismo.

    Acho que esse é ponto mesmo.Não resta dúvida que o poder do estado chinês sobre a economia é muito forte(apesar de certo sentido de ter diminuido) e que essa economia cresce muito bem.

    Agora a questão, é que muitos nem ligam para isso, é:

    Como isso reflete socialmente num estado com mais de um bilhão de pessoas?E quem são são os que realmente manda nesse estado?

    Sergio ,nao sei se já escrevi por aqui, mas vou colocar.Era bom vc colocar aqueles icones das redes sociais nos seus posts.Se vc trabalha com a plataforma blogspot, que me parece, lá tem um lugar que só ativar.Facilita para gente ir divulgando pelas rede socias, ou redes de divulgação seus textos...

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