Um
jantar em família, um beijo de boa noite, um abraço afetuoso, cada uma dessas
manifestações valem pontos que dão direito a créditos para consumo. Casamentos
são decididos em leilões, bebês já nascem com suas vidas projetadas em
planilhas. As relações sexuais são reguladas por determinações estatísticas.
O
mesmo vale para as amizades, que são negociadas como ações nas bolsas de valores.
Esferas espirituais, como a religião e a arte, foram quantificadas e compõem
derivativos financeiros.
Os
defensores desse tipo de relação social alegam que tudo ficou muito mais claro.
Esse processo já vinha ocorrendo há alguns séculos, dizem eles. Mas ficava
oculto sob camadas de hipocrisia. Agora, ninguém mais esconde que o que realmente
importa são os interesses materiais.
O
problema é que a mesma doença que atacava as operações financeiras, agora
atinge as relações sociais. Conflitos especulativos entram pelas casas adentro.
Contaminam o cotidiano, destroem famílias, amizades, lealdades, convicções.
Antes,
as crises econômicas jogavam milhões na pobreza, mas laços afetivos e de
lealdade serviam como refúgio à crueza quantitativa do capitalismo. Agora, os
desequilíbrios econômicos partem do interior mesmo dessas relações. A crise já não
atinge a humanidade. Ela é a humanidade. O colapso é inevitável.
A
não ser que... Bom, a não ser que vocês mudem a história. Ainda há tempo. Mas não
muito...
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