Se
até cerca de 40 anos atrás, os kaiowa e nhandeva moravam em casas grandes
denominadas ogajekutu-ogaguasu, reunindo até cem pessoas de uma mesma família,
hoje vivem em casas minúsculas, muitas ainda feitas de barro, sem a proteção da
floresta, abrigando apenas a família nuclear. A estrutura da família extensa,
cuja chefia baseia-se no prestígio e religiosidade, desorganizou-se, visto que
os indígenas não conseguiram substituir seu prestígio cultural pelo poder dos
brancos. Com a dizimação de suas terras, sem os ritos do plantio, da colheita,
das sagas coletivas de caça e pesca, eles não têm razões para continuar com
seus ritos, e conforme perdem as práticas com a terra perdem também sua cultura.
Mesmo que ainda subsista, de forma curiosa, a língua guarani, que é o maior
foco de insistência e resistência dessa coletividade.
Esta
violência cultural seria um dos motivos principais para a epidemia de suicídios
entre os guaranis-kaiowá. Trata-se da “perda da terra, da tekoha, o lugar onde
‘realizam seu modo de ser’”, diz o texto.
Mas
por que alguém sacrificaria a própria vida por ter perdido seu “modo de ser”?
Há muito tempo, nós, os “civilizados”, aprendemos a desprezar tais
preocupações. Nos tornamos mais práticos e passamos a valorizar somente “formas
de ter”.
Ou
seja, é como e já tivéssemos nos suicidado e não nos demos conta.
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