Rugendas |
O governo (...) olha para os batuques como para um
ato que obriga os negros, insensível e maquinalmente, de oito em oito dias, a
renovar idéias de aversão recíproca que lhes eram naturais desde que nasceram
(...). [Se] os dahomey vierem a ser irmão com os nagôs, os gêges com os haúças,
os tapas com os ashantis, e assim os demais, grandíssimo e inevitável perigo
desde então assombrará e desolará o Brasil. E quem haverá que duvide que a
desgraça tem o poder de fraternizar os desgraçados.
Hoje,
algumas festas ou divertimentos populares podem ter efeito parecido. É o caso
das brigas entre torcidas ou em votações de escolas de samba. Lutas ligadas a tragédias
sociais também podem ser transformadas em alegres feriados.
O
Dia da Consciência Negra corre este risco. Nesta data, festividades oficiais
podem dar a impressão de que a dívida histórica com o povo negro vem sendo
saldada. Na verdade, acumula-se e aprofunda uma situação cada vez mais dolorida.
Mas,
diferente do que pensava o Conde dos Arcos, momentos festivos podem fortalecer a
luta dos explorados e humilhados. Desde que sejam organizados por nós e representem
perigo para os poderosos. Reforcem o espírito de união, solidariedade, orgulho
das tradições e respeito mútuo.
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