Na campanha presidencial de
1989, Paulo Maluf disse uma frase que ficou tristemente famosa. Perguntado
sobre a violência contra mulheres, ele se dirigiu aos estupradores dizendo: “Tá
bom, está com vontade sexual, estupra, mas não mata”. Décadas depois, essa
repugnante tolerância em relação à violência sexual contra mulheres continua
firme.
Em 2012, o número de estupros
registrados no Brasil foi maior que o de homicídios dolosos (com intenção de
matar). Os dados são da 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A
publicação mostra 50.617 casos de estupro, contra 47.136 assassinatos. O aumento
de 18,17% em relação a 2011 dá ao País um vergonhoso primeiro lugar no mundo.
Em 2006, foi aprovada a Lei
Maria da Penha, tornando mais rigorosas as punições para agressões contra
mulheres em casa ou na família. Desde então, o número de casos registrados cresceu
600%. Mas dados que envolvem violência contra mulheres padecem de um problema
crônico. É difícil saber se eles aumentam ou diminuem variando com a ocorrência
de casos ou apenas com sua denúncia.
Mas há outros indicadores que
fazem suspeitar do pior. O Ministério da Saúde, por exemplo, dispõe de apenas 65 serviços para realizar abortos
em vítimas de estupro em todo o país. São apenas 410 “delegacias da mulher” no território
nacional, a grande maioria nas grandes cidades. A enorme presença da mulher
como coisa de que se pode dispor na publicidade e na grande mídia dispensa
comentários.
Mesmo que os números estejam distorcidos
para pior, vivemos numa sociedade que acha possível oferecer à mulher o estupro
em troca de sua vida.
Leia também: Estupro não envolve
desejo. É ódio às mulheres
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