Em junho de 98, Chico Buarque
publicou na imprensa o artigo “O moleque e a bola”, junto com Eduardo Coelho.
Um trecho diz:
No
Rio, em São Paulo, em Buenos Aires, os ingleses detinham, além de todas as
bolas, o monopólio das chuteiras, das camisas listradas e dos campos de grama
inglesa, como manda a regra, perfeitamente planos e horizontais (...). Em 1895,
segundo a crônica paulistana, confrontavam-se Railway Team e Gas Team, “quando
huma pellota imprensada entre dous athletas subiu aos céos e foi cahir às mãos
de hum assistente. D'improviso, o cidadão seqüestrou a pellota. Metteu-a sob o
braço e escafedeu-se no matagal, perseguido por dezenas de crioulos. Foi
alcançado ao cabo de meia hora, às margens do rio Ypiranga. E celebrou-se alli,
em terreno pedroso e cascalhudo, o primeiro jogo de bola entre brasileiros, com
cincoenta actuantes e nenhum goalkeeper”.
Chico Buarque também é torcedor
do Fluminense. E, em suas origens, só a elite jogava no time das Laranjeiras. O
público que o acompanhava era formado por homens de casaca e chapéu e mulheres
de vestido longo e luvas. No auge da empolgação e do calor, eles tiravam os
chapéus e elas, as luvas, que passavam a ser torcidos por mãos nervosas. Nasciam
os torcedores.
Com as caríssimas “arenas de
futebol” recém-inauguradas, a elite volta às arquibancadas, mesmo sem luvas e
casacas. À maioria pobre, resta esperar do lado de fora que a pelota lhes volte
a cair do céu. Ainda que restem poucos terrenos, cascalhudos ou não. Quase todos da elite, caninamente guardados por governantes, juízes e policiais.
Leia também: Futebol para poucos e
ricos. E para muitos e pobres
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