Latuff |
De forma inédita, o Grêmio foi eliminado da
Copa do Brasil pelos atos racistas de alguns de seus torcedores. Mas nem deu tempo
de comemorar a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Logo surgiram
evidências de que o mesmo crime foi cometido por um dos membros do próprio
tribunal.
Trata-se de Ricardo Graiche, que teria postado fotos racistas nas redes virtuais, em 2012. Uma delas mostra
um bebê negro enrolado em um rótulo de Pepsi. Uma estupidez das mais
repugnantes.
Mas o episódio pode ajudar a explicar a
decisão do STJD. Apesar de justa, ela pode ser interpretada como uma forma de
isolar o caso. A pressa e o rigor do tribunal, talvez, tenham menos a ver com o
combate ao racismo que seu ocultamento. Prontamente condenadas, as atitudes
seriam apenas manchas em nossa “democracia racial”.
Essa ideologia racial branca afirma que os negros
sofrem constrangimentos por sua condição social e não devido à cor de sua pele.
Assim, um negro rico sofreria menos discriminação que um pobre. A ascensão
social seria suficiente para lhe garantir tratamento respeitoso.
Ou seja, o discurso dominante prefere
admitir a existência de injustiças sociais que as de caráter racial. Afinal,
temos uma das maiores populações negras do planeta. Seria perigoso uni-la em
torno de algo que a ofende em seu conjunto. Melhor que seja convencida de que
as condições sociais muito piores em que vive são resultado
de situações individuais.
Essa lógica explicaria por que um juiz condena
o racismo berrado nos estádios, enquanto discretamente alimenta o seu. Silencioso e letal como um bicho peçonhento.
Leia também: O capitalismo racista
nos Estados Unidos e aqui
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