Os carrascos do DOI-Codi gostavam tanto do que faziam que batizaram seu local de
“trabalho” de “Casa da Vovó”. Este também é o título do livro recém-lançado pelo
jornalista Marcelo Godoy sobre um dos maiores centros de repressão da ditadura
militar.
Outro apelido para o lugar era “açougue”. Bastante adequado, pois em suas
dependências, pelo menos 66 pessoas morreram e 39 foram torturadas. Número admitido
pelos 25 agentes da repressão entrevistados pelo autor.
Godoy também cita a influência da doutrina de segurança francesa sobre o
aparato repressivo nacional. Segundo essa concepção surgida no combate aos
revolucionários argelinos, a guerra contra a subversão deve começar não a
partir do primeiro tiro disparado, mas do primeiro panfleto distribuído.
Baseada nesse princípio, a repressão da ditadura castigou não apenas a oposição
armada, mas qualquer um que divulgasse ideias ou intenções não aceitas pelo
regime. Uma evidência clara do caráter fascista e covarde das ações cometidas
pelos carrascos militares.
Godoy também cita algumas práticas aperfeiçoadas pelo DOI-Codi que continuam até
hoje. Agora, castigam principalmente pobres e pretos, maiores vítimas das execuções
e torturas cometidas pela polícia.
Mas, há pouco tempo, reapareceu outro mecanismo fascista daquela época que estava
esquecido. Foi colocado em uso durante a prisão ilegal de dezenas de manifestantes,
processados por participar dos protestos iniciados em junho de 2013.
Entre as “evidências” apresentadas contra os acusados, estão escutas telefônicas,
camisetas, revistas, livros, panfletos... Enfim, intenções e ideias.
Meio século depois, a vovó não só continua firme, como rejuvenesceu ao rever
sua antiga amiga, a doutrina francesa. Um reencontro gentilmente promovido por seus novos
netos e afilhados.
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surdez de quem esqueceu os próprios gritos
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