Esclarecedora a entrevista com Ricardo Mariano, publicada
hoje no Globo. Autor do livro “Neopentecostais”, ele analisa a recente eleição de
Marcello Crivella no Rio.
Para começar, Mariano afirma algo que deveria ser óbvio
sobre os eleitores do novo prefeito:
Não dá pra pressupor que se trata de
40 milhões de evangélicos que seguem seus pastores como se fossem gado, como se
fossem um rebanho acrítico. Esse pessoal filtra, reinterpreta e seleciona certas
coisas, como em toda religião.
Menos óbvio é o que ele afirma sobre a igreja de
Crivella: “A Universal tem um projeto flexível de poder”. Segundo ele, a
organização de Edir Macedo:
...é muito diferente das demais
pentecostais, ela não é sectária. É uma igreja que abraça os bens materiais, a
prosperidade, e que prega que as coisas boas deste mundo devem ser aproveitadas
pelos fiéis. Se dar bem neste mundo é algo altamente positivo na teologia.
Além disso, Macedo teria dado declarações a favor do
aborto, devido a “um excesso de pobres”. E teria dito que “há espaço” para os
gays em sua igreja, ainda que continuem a ser pecaminosos.
Ou seja, fica claro que há um projeto conservador em andamento. Mas voltado à defesa específica dos interesses das forças envolvidas que a eleição de Crivella representa.
O que mais importa nessa entrevista é entender que todo
esse processo diz respeito à boa e velha “disputa de hegemonia”. Mais precisamente,
trata-se de tornar universal o que não passa da defesa mesquinha de interesses particulares.
Algo a que se dedicam todas as facções da classe dominante.
A propósito, a palavra grega para “universal” é “katholikos”...
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novo templo e seus vendilhões
Ninguém nas jornadas de Junho tinha lutado com mais fanatismo pela salvação da propriedade e pelo restabelecimento do crédito do que os pequenos burgueses de Paris: donos de cafés, de restaurantes, taberneiros, pequenos comerciantes, merceeiros, artesãos, etc. A loja unira-se e marchara contra a barricada para restabelecer a circulação que vem da rua para a loja. Atrás da barricada, porém, estavam os clientes e os devedores, à frente dela encontravam-se os credores da loja. E quando as barricadas foram derrubadas e os operários esmagados e os donos das lojas, ébrios com a vitória, se precipitaram para as suas lojas, encontraram a entrada barricada por um salvador da propriedade, um agente oficial do crédito, brandindo-lhes as mensagens ameaçadoras: Letra vencida! Renda vencida! Hipoteca vencida! Loja vencida! Lojista vencido!
ResponderExcluirKarl Marx - As Lutas de Classes na França de 1848 a 1850