Mujique é o nome que se dá aos camponeses russos. Um termo
que costuma ser entendido como sinônimo de grosseria, ignorância e conservadorismo.
Uma imagem alimentada também por grande parte da tradição marxista ortodoxa.
Mas não era assim que pensava Lênin. Segundo a biografia do revolucionário russo escrita por Tony Cliff, o
líder bolchevique considerava importante aprender com os mujiques. Cliff cita,
por exemplo, algumas palavras dele em relação ao discurso de um camponês monarquista
em uma sessão parlamentar:
Ele começa seu discurso repetindo as
palavras do Tzar sobre "os direitos sagrados da propriedade" (...). Também
deseja que “Deus conceda saúde ao Imperador". Mas termina dizendo:
"Vossa Majestade disse que deve haver justiça e ordem. Mas se eu tenho um
pedaço de terra e meu vizinho possui 10 mil vezes mais terra do que eu, onde está
a ordem e a justiça?"
É a estas contradições que os revolucionários devem estar atentos. São elas que levavam Lênin a dizer que no peito de um rude camponês
pode bater um coração revolucionário.
A principal força dirigente do vasto campesinato russo eram
os socialistas revolucionários, não os bolcheviques. Mas o partido jamais rejeitou
esse setor dos explorados como “gente atrasada”. Uma atitude que se mostrou
acertada, pois sem o apoio dos mujiques o processo revolucionário russo jamais seria
vitorioso.
Apesar disso, muitos dos que se dizem leninistas só sabem
tratar com arrogância vastos setores da população explorada simplesmente porque
não dominam a “teoria revolucionária”. Preferem limitar sua militância a uma
vanguarda tão esclarecida quanto inofensiva. Tão pequena quanto são inúteis suas
vaidades acadêmicas e limitados seus horizontes políticos.
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Revolução de 17
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