É comum afirmamos que as grandes mudanças políticas na sociedade
brasileira acontecem por meio de uma conciliação que deixa intactos os interesses
das classes dominantes.
Proclamação da Independência, República, abolição da
escravidão, golpe de 1930, término da ditadura Vargas, começo e fim da ditadura
de 1964. Em todos esses exemplos, as classes dominantes locais sempre
resolveram seus conflitos, não apenas sem o envolvimento do povo, como às
custas dele. Afinal, se a conciliação impera entre os de cima, o pau come no
lombo dos de baixo, ao menor sinal de resistência popular e mesmo na ausência
dela.
A atual crise política por que passa o País parece ser
consequência de uma tímida tentativa de intrometer nessa dinâmica o atendimento
a algumas poucas necessidades populares. Aproveitando o desgaste do modelo
neoliberal, o lulismo colocou sua cunha. O problema é que o fez pelo alto e por
lá continuou, feliz prisioneiro dessa máquina de moer interesses populares que
são os Estados nas sociedades de classes.
Mas toda essa conversa é apenas para reproduzir um trecho
do artigo de Vladimir Safatle, publicado na Folha, em 16/06:
...países que um dia levaram seus
dirigentes à guilhotina e à forca (como a França e a Inglaterra) conseguiram
civilizar minimamente sua classe dirigente. Eles a civilizaram através de certo
medo pelo povo que se inscreve no imaginário do poder. Com guilhotina ou não (pois
isso pode ser visto apenas como metáfora), uma coisa é certa; no Brasil, falta
ao poder temer o povo.
Perfeito. Mas resta saber até quando as metáforas continuarão a salvar o pescoço de nossas classes dominantes.
Leia também: Enterro
da Nova República: presença obrigatória
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