“Várias vezes tentei ler Maiakóvski e nunca pude ler mais
que três versos: sempre durmo”. Esta frase de Lênin está na pequena e brilhante
biografia de Trotski, escrita por Paulo Leminski.
Segundo o poeta paranaense, a vanguarda artística russa
do começo do século foi importantíssima. Maiakóvski é considerado o grande representante
dessa arte revolucionária, mas havia pintores como Chagall e Maliévitch;
escritores como Górki e Bábel; e os cineastas Eisenstein e Djiga-Viértov.
Movimentos como o futurismo, cubismo, suprematismo também
deveram muito à ebulição revolucionária russa. Neste contexto, diz Leminski, surgiu,
por um momento, “a miragem da fusão revolução artística/revolução política”.
Seriam “uma nova arte para um novo mundo, novas linguagens para uma nova vida”.
Infelizmente não foi isso que aconteceu. “Maiakóvski
suicidou-se em 1930. Eisenstein acabou domesticado, fazendo filmes patrióticos.
Meyerhold desapareceu, depois de preso pela polícia de Stálin”, afirma o autor.
A partir daí, passaram a ser permitidas apenas as manifestações artísticas chanceladas
pelo Estado.
Frente a essa situação, parece a Leminski que a “inovação
artística se dá muito bem nas temperaturas revolucionárias. Mas fenece quando
os regimes se consolidam”.
Mas esta regra também poderia se aplicar a outras
“inovações” revolucionárias. Os enormes avanços na emancipação feminina e
liberdade sexual conquistados pela Revolução também se perderam ao longo do
caminho.
Culpar exclusivamente a contrarrevolução stalinista não basta.
Lênin e Stálin eram muito diferentes. Um sentia sono diante da arte de
vanguarda. O outro jogava seus artistas nas prisões. Mas ambos participaram do
processo que se dobrou ao pragmatismo econômico da acumulação capitalista.
Antes, como agora, vale a palavra-de-ordem: “A gente quer
comida, diversão e arte.”
Leia também: Aprendendo com Lênin a aprender com os
camponeses
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