Marx e Engels não fizeram do Estado
uma mera extensão da classe dominante, sua ferramenta, seu fantoche, ou mero
reflexo, num sentido simplista e passivo (...). Pois a realidade pode de fato
ser mais complexa, como mostrou o estudo de Marx sobre o Bonapartismo. Ao
contrário, o Estado surge e expressa uma necessidade real e geral de
organização da sociedade – necessidade esta que existe qualquer que seja a
estrutura específica de classe. Porém, desde que exista uma classe dominante
nas relações socioeconômicas, ela utilizará esta necessidade para moldar e
controlar o Estado de acordo com as orientações de classe.
O trecho acima é do
livro “Karl Marx’s Theory of Revolution: State and Bureaucracy”, de Hal
Draper. Refere-se à obra “O 18 Brumário”, no qual Max
pinta um quadro rico e detalhado das inúmeras contradições na França do século
19, incluindo as divergências no interior da classe dominante. Trata-se de um excelente
guia para fazer análises políticas de situações concretas, sem simplismos.
Hoje, no Brasil, por exemplo, estão em lados opostos, a
Fiesp, a favor do governo golpista, e a Globo, contra. Mas ambas são
inegavelmente pilares da classe dominante. Compreender essas contradições e saber
explorá-las em favor da luta dos explorados é fundamental. Mas para isso é
preciso deixar de fazer da política a arte de ocupar postos em uma
institucionalidade irrecuperavelmente podre.
Afinal, já em 1871, em “A guerra Civil na França”, o
mesmo Marx dizia: “...o poder estatal, que parecia flutuar bem acima da sociedade,
era, entretanto, o maior escândalo dessa sociedade e ao mesmo tempo o foco de
todas as suas corrupções”.
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