A escritora argentina Mariana Enriquez está lançando seu
primeiro livro no Brasil. Trata-se da coletânea de contos “As coisas que
perdemos no fogo”. A obra mistura terror à denúncia dos traumas causados pela
repressão durante a ditadura militar argentina dos anos 1970.
Em 16/06, ela declarou ao Globo:
A história e o cotidiano da Argentina
estão cheios de fantasmas, questões que aparecem em diferentes lugares e não
podem ser arrancadas. São marcas profundas, de um passado que é impossível de
deixar para trás. Escrevo contos de terror, mas que também são políticos.
Na Folha, em 28/05, reportagem de Janaína Figueiredo
relata que filhos de ex-torturadores argentinos estão rompendo com eles,
expressando publicamente “sentimentos como vergonha, ódio e rancor em relação a
seus pais”. Na verdade, enquanto ainda eram bebês, seus verdadeiros pais foram
mortos pela ditadura e “adotados” pelos carrascos.
Erika é uma delas. Seu “pai adotivo” era o médico Ricardo
Lederer, “que trabalhou na clínica clandestina de Campo de Maio, onde nasceram
muitos filhos de presas políticas, posteriormente entregues a famílias de
militares ou próximas às Forças Armadas”, diz a matéria.
Lederer morreu antes de ser julgado. Mas sua neta, filha
de Erika, de apenas 9 anos, lhe perguntou se seu avô estaria preso caso não
tivesse morrido. “Sim, respondi de forma imediata. Nunca a vi chorar como nesse
dia. Algo tinha se quebrado em sua infância e não podia ser de outra maneira”, contou.
Quem já leu, garante que Mariana é uma ótima escritora de
terror. Mas a vida real em seu país, e nos vizinhos da região, pode ser ainda mais assustadora.
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