Foi o bastante para que setores da
esquerda acusassem a proposta de ser divisionista, reformista, conciliadora,
despolitizada etc.
Mas, talvez, também fosse o caso de
perguntar se a grande maioria da esquerda poderia se considerar “favelista”, tal
como o documento de apresentação da proposta define o conceito, qual seja:
...trabalhar na inserção dos negros,
dos moradores de favelas, e dos pobres dos subúrbios/periferias, no espaço de
discussão e decisões políticas do país, bem como manter a constante vigília
contra o preconceito racial e discriminação de qualquer origem.
Será que a maioria da esquerda pode
dizer que realmente abre “espaço de discussão e decisões políticas” aos negros
e pobres em suas organizações? Além disso, a “vigília” contra o preconceito
racial e outras opressões é pra valer ou fica restrita à retórica de seus
documentos e discursos?
Claro que ser antirracista sem ser
de esquerda não leva a lugar algum. Mas não há como ser verdadeiramente anticapitalista
sem combater o racismo.
Por outro lado, a proposta defende a
“construção de um projeto de oportunidades, a partir do qual todos possam
ocupar um espaço digno de sua humanidade.” Este objetivo não reduziria a luta “favelista”
à conquista de ajustes nos mecanismos da meritocracia, que justificam não só o
racismo, mas toda a exploração capitalista?
São questões como essas que devem
orientar a esquerda no debate sobre a proposta “favelista” para evitar as
tentações de nosso sectarismo.
Pensei - na raiz - no sentido da palavra opressão e me lembrei de Marx [Manuscritos]: “A opressão humana toda está envolvida na relação do trabalhador com a produção, e todas as relações de servidão são apenas modificações e consequências dessa relação”. Obviamente, não é esse o caminho mais fácil do pensamento [a raiz é concreta, é o que sustenta o tronco e as folhas e frutos, mas raramente aparente]. Seu texto me faz também refletir: esse movimento se anuncia de uma forma ambígua e afirma sua ambiguidade [não se trata somente de negação]. Essa ambiguidade, contudo, nos fala da necessidade de disputar esse debate - pois o sofrimento é real, ainda que a raiz esteja bem enfiada na terra.
ResponderExcluirÉ por aí, Alexandre. O sofrimento é real e a esquerda tradicional tem sido insensível a ele.
ExcluirAbraço
Prossigamos, Sérgio! Saiba que sou leitor quase diário do seu blog [e eventualmente faço uso de suas matérias em sala de aula], embora raramente publique comentários. Forte abraço
ExcluirQue ótimo, Alexandre. Fico feliz.
ExcluirGrande abraço!
Meu nome é Marcus Castanhola.
ResponderExcluirSou Teólogo, Filósofo e Cientista Político.
Autor do Ensaio: 4a VIA - AS COMUNIDADES ORGANIZADAS NO PODER.
Esse ensaio foi lançado na UFRJ / IFCS em 2002, onde tive o privilégio de merecer 2 prefácios:
1 - Prof. Aluizio Alves Filho:
Doutor em Sociologia, UNB e Doutor em Ciências Sociais (América Latina), FLACSO. Professor do Mestrado de Ciência Política da UFRJ/IFCS.
2 - Prof. Clay Hardman de Araújo:
Professor Titular da cadeira de Filosofia do Direito da Universidade Gama Filho; ocupava a Cadeira de Platão na Academia Brasileira de Ciências Sociais (In Memoriam / 1924 – 2002).
Recentemente, para o lançamento em breve da 2ª edição, tive o privilégio de merecer um novo prefácio, desta vez do eminente cidadão Roberto Saturnino Braga, Vereador, Prefeito do Rio de Janeiro, Dep. Estadual, Dep. Federal, Senador por três mandatos e atual Presidente do Instituto Casa Grande (ICG).
De minha parte, gostaria de contribuir para os objetivos da emancipação histórica das periferias, fração indiscutivelmente mais violentada da classe trabalhadora.