Doses maiores

24 de janeiro de 2018

Abril de 1500: os Walking Dead desembarcam

“1499: O Brasil antes de Cabral”, de Reinaldo José Lopes, é um ótimo livro para descobrir a riqueza cultural e social dos povos indígenas antes da invasão europeia. Além de ser muito didático e bem escrito.

O capítulo final tenta descrever o que teria representado a invasão dos europeus para esses povos. Segundo Lopes, poderia ser um filme no estilo “Jogos Vorazes”, “The Walking Dead” e “Mad Max”.

Mas na produção em questão, “os zumbis devoradores de gente são os brasileiros de origem europeia, enquanto o papel das tribos amazônicas não é muito diferente do dos mocinhos de The Walking Dead”.

Ou seja, os indígenas seriam pessoas “tentando manter algum simulacro do funcionamento original de sua sociedade quando as estruturas políticas forjadas por seus ancestrais e a maior parte da população à qual pertenciam já tinham virado fumaça”.

A comparação pode surpreender. Afinal, a ideia dominante é a de que os indígenas brasileiros jamais tiveram sociedades muito complexas. Não passariam de poucas tribos espalhadas pelo vasto território, em estruturas sociais simples e “primitivas”, claro.

Ainda que fosse verdade, nenhuma sociedade pode ser considerada simples. Basta que seja formada por humanos para que seja complexa em algum nível. Mas o fato é que o livro de Lopes dá um panorama muito muito diferente daquele imposto pela ciência mal-informada e pelo preconceito mal-intencionado.

O livro fala, por exemplo, de “aldeias-metrópoles” no Xingu, do “esplendor da arte marajoara e tapajônica” na Amazônia e de um “poderio militar Tupinambá” que aterrorizava os portugueses. Voltaremos a ele e ficará claro que somos nós os Walking Dead nessa história.
                                           
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Um comentário:

  1. De fato, sociedades humanas não podem nunca ser simples. Gostei da "ciência mal-informada e o preconceito mal-intencionado".

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