“1499: O Brasil antes
de Cabral”, de Reinaldo José Lopes, é um ótimo livro para descobrir a riqueza
cultural e social dos povos indígenas antes da invasão europeia. Além de ser muito
didático e bem escrito.
O capítulo final tenta
descrever o que teria representado a invasão dos europeus para esses povos. Segundo
Lopes, poderia ser um filme no estilo “Jogos Vorazes”, “The Walking Dead” e “Mad
Max”.
Mas na produção em questão,
“os zumbis devoradores de gente são os brasileiros de origem europeia, enquanto
o papel das tribos amazônicas não é muito diferente do dos mocinhos de The
Walking Dead”.
Ou seja, os indígenas seriam
pessoas “tentando manter algum simulacro do funcionamento original de sua
sociedade quando as estruturas políticas forjadas por seus ancestrais e a maior
parte da população à qual pertenciam já tinham virado fumaça”.
A comparação pode surpreender.
Afinal, a ideia dominante é a de que os indígenas brasileiros jamais tiveram sociedades
muito complexas. Não passariam de poucas tribos espalhadas pelo vasto território,
em estruturas sociais simples e “primitivas”, claro.
Ainda que fosse
verdade, nenhuma sociedade pode ser considerada simples. Basta que seja formada
por humanos para que seja complexa em algum nível. Mas o fato é que o livro de Lopes
dá um panorama muito muito diferente daquele imposto pela ciência mal-informada
e pelo preconceito mal-intencionado.
O livro fala, por
exemplo, de “aldeias-metrópoles” no Xingu, do “esplendor da arte marajoara e
tapajônica” na Amazônia e de um “poderio militar Tupinambá” que aterrorizava os
portugueses. Voltaremos a ele e ficará claro que somos nós os Walking Dead
nessa história.
De fato, sociedades humanas não podem nunca ser simples. Gostei da "ciência mal-informada e o preconceito mal-intencionado".
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