Doses maiores

26 de julho de 2018

Sobre tecnologia, desemprego e capitalismo. Sobre barbárie, enfim

Escrevendo no Globo, em 29/06/2018, Pedro Doria afirmou:

A Uber não foi pensada para carros com motorista. Ela entra no azul mesmo quando não precisar mais pagar motoristas e substituir a frota por carros autônomos. Só que, até lá, é preciso acostumar os consumidores com a ideia de chamar um carro via app. E a maneira de montar um gigantesco portfólio de consumidores é seduzindo-os e aos motoristas simultaneamente. O segredo que permitiu à Uber se tornar líder perante suas concorrentes está no capital que levantou. Foi tanto, mas tanto dinheiro, que lhe permitiu cobrar menos do que taxistas, pagar um percentual alto da corrida aos motoristas, e se estabelecer rápido em incontáveis cidades no mundo. Tudo ao mesmo tempo. Faz tudo no vermelho para ser líder ali na frente.

Em entrevista à revista da EPSJV/Fiocruz, publicada em 05/07/2018, Marildo Menegat, professor da UFRJ, lembra que nas plantações de cana:

Quando as ceifadeiras tornaram-se mais rentáveis, trabalhando 24 horas por dia, cada uma substituindo até 15 trabalhadores, já não se fazia mais necessária a presença de cortadores nessa produção.

 Esse fenômeno tende a se generalizar, diz Menegat. O problema é:

...que o capitalismo produziu hoje é a humanidade como um excesso para o capital. Qual é a solução técnica para este excesso? Eliminá-la. E isso já está acontecendo: temos a maior quantidade de refugiados no mundo, a maior quantidade de pessoas passando fome e a maior quantidade de pessoas trabalhando em condições análogas à escravidão. E, na história do capitalismo, isso só tende a crescer.

É esta a verdadeira solução capitalista para a humanidade. A barbárie.

4 comentários:

  1. Serginho, Marildo tem razão quanto à absoluta indiferença do capital frente aos trabalhadores e aos seres humanos. E, portanto, tem ainda razão quanto à possibilidade de tragédias de eliminação ainda mais massiva do que a atual. Basta lembrar que a 1ª Guerra Mundial (1914-18) morreram pelo menos 10 milhões de soldados e 7 milhões de civis.Mas não tem razão ao supor que o capital possa dispensar o trabalho. Capital é trabalho morto empenhado em extrair mais-valor do trabalho vivo. A ferro e sangue.
    Abraços,
    Virǵinia

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    1. Sim, Virgínia, o capitalismo não pode dispensar a exploração do trabalho vivo. Até acho que ficou meio confuso, mas acho que ele só se referiu ao excesso de trabalho vivo, não a todo o trabalho vivo.

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  2. O avanço da tecnologia dispensa muitos trabalhadores, produzindo desemprego, mas cria novos tipos de trabalho. Compete ao Estado preparar os desempregados e os desempregandos para as novas atividades, bem como para o tempo de lazer que, inevitavelmente, cresce.

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    1. Pode ser. Mas como, se o Estado atualmente é controlado pelo modo "piloto automático" com Bancos Centrais decidindo a vida econômica, à margem das eleições e a ideologia dominante afirmando que mais empregos ameaçam a estabilidade da economia?

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