Bolsonaro foi eleito aproveitando-se
de um forte sentimento antipetista. Grande parte de sua sustentação política vem
dessa imagem como reflexo negativo do petismo.
Mas é tentador enxergar
outros efeitos de espelho na cena política atual. Tal como o primeiro governo petista,
o atual também assume precisando se mostrar confiável para a grande burguesia.
Erroneamente, Lula era
visto como sindicalista incendiário pelo patronato. O ex-capitão sempre fez pose
de estatista e defensor dos servidores militares. Como o petista, ele também tem
uma “fama de mal” da qual precisa se livrar.
Em 2003, Lula apresentou
uma proposta de Reforma da Previdência como prova de seu compromisso com a continuidade
da ortodoxia econômica neoliberal. Agora, Bolsonaro faz o mesmo.
A reforma do governo Lula
atacou principalmente direitos de servidores públicos. Ótimo sinal para o “mercado”.
Bilhete de continuidade no poder renovado. Provisoriamente, claro.
Se eliminar os direitos previdenciários
para a grande maioria da população, Bolsonaro também poderá desfrutar de algum
sossego. Verá abafadas as denúncias que pipocam sobre suas laranjadas e minimizadas
as negociatas que vem fazendo.
Tal como os petistas passaram
a conciliar com a velha classe política sob pretexto de continuar no poder, Bolsonaro
não consegue esconder sua ligação com o que há de mais velho na política. De torturadores
corruptos a corruptos torturadores.
Assim funciona o grande show
ilusório da dominação capitalista. Mas se o jogo de reflexos petista era menos
enganoso, o atual é como o daquelas salas espelhadas dos parques de diversão. Diante
das múltiplas imagens falsas que distraem o público, poucos notariam caso um incêndio
começasse a devorar tudo à sua volta.
Leia também: Reforma
da Previdência e luta de classes
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