A melancolia de esquerda quase nada tem a ver com a forma épica e gloriosa,
muitas vezes falsa e ilusória, de muitos triunfos e conquistas, com suas
bandeiras ao vento, heróis reverenciados, antevendo um "destino magnífico
e progressista" escondido no futuro. Em vez disso, trata-se da grande
tradição de derrotas que marcou a história das revoluções.
É a melancolia de Auguste Blanqui e Louise Michel após a repressão sangrenta à
Comuna de Paris. Mas também de Rosa Luxemburgo, Gramsci, Trotsky, Walter
Benjamin, Che Guevara...
Essa melancolia foi escondida, removida ou sublimada pelas
representações de um futuro emancipado, diz Traverso. “Ela irriga a história
dos movimentos revolucionários como um rio subterrâneo, como um riacho poderoso
mas invisível, exorcizado por narrativas edificantes”.
Tendo irrompido no século 20 como promessa de libertação, o comunismo terminou
como um símbolo de opressão. Diante das imagens da demolição do Muro de Berlim,
tem-se a impressão de assistir o filme “Outubro”, de Eisenstein, “sendo rebobinado”.
Referindo-se às primeiras mortes causadas pela AIDS, pandemia
contemporânea ao fim do socialismo real, o autor lembra que muitos ativistas
gays viviam com um sentimento permanente de abandono. Sabiam que logo
morreriam, compartilhando o mesmo destino de seus companheiros. Mas muitos deles
jamais abandonaram a militância.
Traverso considera que o significado dessa experiência poderia ser
resumido em uma fórmula que reflete bem o espírito de seu livro:
"Militância, é claro, mas também luto: luto e militância".
Continua...
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também: União Soviética: preservando o estado às custas da
revolução
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
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18 de novembro de 2020
A melancolia da esquerda: militância com luto
“Melancolia de esquerda: Marxismo, história e memória” é o título de
um livro do historiador italiano Enzo Traverso. Publicado originalmente em 2016, a obra
volta-se para a história dos “vencidos”.
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