Doses maiores

21 de julho de 2022

A sintonia do fascismo com as dissonâncias capitalistas

“Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição” é o mais recente livro de Rodrigo Nunes, professor de filosofia da PUC-Rio.

Importante contribuição ao debate, os textos da obra ajudam a entender a atual onda ultraconservadora por aqui e na política mundial.

Ao discutir sobre o descontentamento generalizado com as injustiças do capitalismo, o autor argumenta que a extrema direita dialoga melhor com as frustrações delas decorrentes.

Cita o filósofo Louis Althusser, que definiu a ideologia como representando “a relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência”.

A questão é que o imaginário que a esquerda vem adotando procura defender a razoabilidade e sensatez de um sistema que se mostra cada vez mais irracional e tresloucado.

Enquanto isso, diz Nunes, “a história que a extrema direita conta corresponde mais claramente ao mundo que a maioria das pessoas conhece em seu dia a dia; ela ressoa com sua experiência vivida”.

Claro que a extrema-direita “conta com uma infraestrutura informacional muito superior à de seus adversários”. Porém, diz nosso autor, não se trata apenas dos grupos de WhatsApp ou de influenciadores digitais. O fato, afirma, é que essas “narrativas chegam às pessoas por meio de pessoas de confiança, na igreja, no rádio, no ambiente familiar, no convívio social e assim por diante”.

Portanto, conclui, precisamos não apenas criar redes de comunicação mais extensas e eficazes, como nos fazer “presentes de maneira regular e confiável na vida das pessoas. Isso, por sua vez, demanda organização”.

Teríamos que voltar à militância organizada e atenta às mazelas populares. Só que dá muito trabalho né?

Leia também: Por uma obscenidade de esquerda

2 comentários:

  1. Deixe eu elevar minha potencia me "pabulando" aqui (ainda que vc exclua o comentario com meus inevitaveis sarcasmos... rsrsr): eu já havia feito a mesma reflexão do Professor Nunes e chegado a mesma conclusão. Apenas nao publiquei livro e nem estou sobre o guarda chuva da academia. Eu acrescento mais um pouco, pois nao li o livro, e vai que ele escreveu a mesma coisa ( o que significaria que eu acertei de novo): os ideologos de direita - influenciadores tipo Olavão - sao uns idiotas mesmos, mas os conservadores "de baixo" - ainda que carregados, naturalmente de "rancor ignorantia", refletem apenas o caos da angustia do sistema capitalista, conjugado a hipnose evangelica, que eleva a potencia desses miseráveis metafisicamente, mas dá azo a uma compreensão rigida (de direita?) da politica. Acontece que esse povo "de baixo" é altamente revolucionário (exemplo: a lógica do PCO é sensivel nesse universo). Esse ardor revolucionario foi pacificado pela covardia eleitoral do PT e sequazes. Reverter isso para a luta marxista leninista não é facil. A militancia organizada apenas conseguiria migalhas. Eu costumo dizer que " a igreja catolica dominou o mundo fazendo hipnose todo santo domingo; os pentecostais já dominam o Brasil, fazendo hipnose todo santo dia." Como o PCO iria reverter essa hipnose? Como o PSOL se tornaria um partido confiavel, sem arrear as calças (opa, causas) aos imbecis religiosos de todas os matizes, sejam os gays hipocritas da igreja católica, sejam os igualmente hipocritas fundamentalistas dos pentecostais? PS: Voce escreve pra folha? rsrsrs - quem escreve pra folha morre de medo da ironia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não, Jorge, não escrevo pra Folha. Não vão ser excluídos. Se é que os entendi direito, concordo que não será pela força de vontade da antiga militância ou da nova que milita segundo os velhos padrões que as coisas vão mudar. É preciso que o momento histórico faça nascer as respostas para as questões que faz surgir. O esforço de entendimento do que está acontecendo é muito importante, mas não suficiente. Seus comentários são bons. Fique à vontade para continuar comentando.

      Abraço

      Excluir