Doses maiores

2 de junho de 2023

Fake news e a doença terminal do capitalismo

Comentando a Revolução Francesa, Alexis de Tocqueville afirmou: "Os franceses achavam suas condições de vida mais intoleráveis à medida que elas se tornavam melhores".

Tal contradição teria sido provocada pela nascente ideologia burguesa, que defendia uma igualdade social radical, com o fim dos privilégios de nascimento e de casta. Incapaz de eliminar essas regalias, o Antigo Regime foi derrubado pela irrupção revolucionária de 1789.

Mas não demorou muito para que a sociedade capitalista também traísse suas próprias promessas. É por isso que a crítica marxiana do capital é formulada opondo aquilo que a ideologia burguesa afirma ao que realmente acontece no mundo real.

A convicção revolucionária de Marx não veio de sociedades comunistas imaginárias. Veio da certeza de que para alcançar aquilo que a burguesia prometia seria preciso superar sua dominação, a partir da revolta dos explorados e oprimidos contra as enormes injustiças que pesam sobre eles.

No entanto, a frustração capitalista não provoca apenas raivas revolucionárias, mas também rancores reacionários. E são estes últimos que alimentam o fascismo desde meados do século 20, quando ficou evidente a natureza profundamente injusta e perversa do capitalismo.

O fascismo surgiu como válvula de escape para o sistema, criando inimigos imaginários, falseando a realidade e acusando algumas instituições e aparatos, como a grande imprensa, de participarem de conspirações contra a “civilização cristã e ocidental”.

As fake news são um dos desdobramentos mais recentes desse processo. São sintomas da doença terminal em que se transformou o capitalismo, revelando sua total incapacidade de conferir sentido à existência humana.

Encerraremos essa série sobre fake news na próxima pílula.

Leia também: Fake news: afinal, o que é a verdade?

Um comentário:

  1. Adorei a chamada para a Pílula: "As frustrações provocadas pela sociedade capitalista não provoca apenas ânimos revolucionários, mas também rancores reacionários". Mas pode mudar uma palavra para ficar mais poética, bota uma aliteração (aprendi quando jovem essa palavra e adorei seu sentido e sonoridade), no lugar de ânimos coloca raivas, veja como fica melhor (rssss..., imodéstia à parte): "As frustrações provocadas pela sociedade capitalista não provocam apenas 'raivas revolucionárias', mas também rancores reacionários," Se ânimos fica mais preciso que raiva, não importa, tem horas que precisamos salvar a poética. De mais da Pílula, boa, fake news realmente não é novidade, importante fazer entender que ela é uma extensão do capitalismo para obscurecer o real. Pelo que te conheço, sei que não vai ficar chateado com minha sugestão, acho que vai até gostar. Leitor também serve para isso, para mudar o texto escrito. Bjs.

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