Doses maiores

24 de setembro de 2024

O imperialismo na fase digital do capitalismo

Há alguns anos, o governo federal vem assinando convênios com a Google. Um exemplo é o que foi anunciado em junho de 2023, visando facilitar o acesso a benefícios sociais e vacinas. Mas também há a utilização do gmail como correio eletrônico oficial de muitos órgãos públicos.

Em recente entrevista, o pesquisador especializado em tecnologia digital Evgeny Morozov, demonstrou preocupação com esse tipo de relação:

Se uma empresa se tornar o fornecedor padrão de serviços de análise de dados nos nossos ministérios da saúde, diz ele, o estado de bem-estar social permanecerá o mesmo ou serão privatizados pela Big Tech?

Ainda segundo Morozov:

Estamos perante a mesma situação que os teóricos da dependência descreveram nas décadas de 1960 e 1970: o progresso tecnológico ocorre em paralelo com a regressão econômica ou o subdesenvolvimento industrial.

Quando fala em teóricos da dependência, Morozov deve estar se referindo a nomes como Ruy Mauro Marini, André Gunder Frank, Theotonio dos Santos e Vania Bambirra. Segundo estes pensadores, o subdesenvolvimento dos países periféricos não é um estágio a caminho do desenvolvimento, mas resultado de sua inserção subalterna na economia mundial capitalista.

Vale a pena ler a longa entrevista na íntegra. Morozov manifesta muitas outras preocupações relacionadas às transformações provocadas pela tecnologia digital. Várias delas bastante pertinentes e esclarecedoras. Mas também faz afirmações polêmicas, como a necessidade de a esquerda buscar atender as demandas de uma “subjetividade pós-moderna”.

Pode até ser. Mas a persistência da validade da teoria da dependência em plena era das big techs parece demonstrar que continuamos mergulhados na velha modernidade capitalista. Também conhecida como imperialismo.

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