Mais um pouco das estranhas aventuras dos personagens do livro Histórias de Cronópios e Famas, do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984).
Tristeza do cronópio
Na saída do Luna Park um cronópio percebe que seu relógio
[atrasa, que seu relógio atrasa, que seu relógio,
Tristeza do cronópio diante de uma multidão de famas que
Sobe a Corrientes à onze e vinte e ele, objeto verde e úmido,
[caminha às onze e um quarto.
Meditação do cronópio: “É tarde, mas menos tarde para
[mim do que para os famas,
para os famas é cinco minutos mais tarde, chegarão a suas
casas mais tarde, se deitarão mais tarde. Eu tenho um relógio
[com menos vida, com menos casa e menos deitar-me,
eu sou um cronópio infeliz e úmido.”
Enquanto toma café no Richmond da Florida,
o cronópio molha uma torrada com suas lagrimas naturais.
Terapias
Um cronópio se forma em medicina e abre um consultório na Calle Santiago de Estero. Logo chega um doente e lhe conta como há coisas que doem e como de noite não dorme e de dia não come.
- Compre um buquê grande de rosas – diz o cronópio.
O doente se retira surpreso, mas compra o buquê e fica bom instantaneamente. Cheio de gratidão corre para o cronópio e, além de pagar a consulta, lhe dá de presente, fino testemunho, um belo buquê de rosas. Apenas ele sai, o cronópio cai doente, sente dores por todo lado, de noite não dorme e de dia não come.
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
Doses maiores
▼
30 de julho de 2010
29 de julho de 2010
O Globo e os vários pesos da morte
A edição de “O Globo” de hoje saiu com atraso. Segundo o serviço de atendimento ao cliente do jornal, a causa teria sido a cobertura de uma manifestação feita na madrugada desta quinta-feira, no Túnel Acústico, Zona Sul do Rio. Era uma homenagem a Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães. O jovem de 18 anos foi atropelado e morto naquele local. Dezenas compareceram. Uma grande foto do evento aparece na primeira página do diário carioca.
Este mês, completaram-se os 20 anos do massacre de Acari e o 17º aniversário da matança na Candelária. No total, foram mortos 19 jovens e crianças. Todos pobres e pretos. Até hoje, ninguém foi responsabilizado. Em 23 de julho diversos movimentos sociais realizaram uma “Caminhada em Defesa da Vida”. Cerca de duas mil pessoas protestaram. No dia seguinte, a notícia sobre a manifestação ficou longe da capa de “O Globo”. Foi publicada na página 28. A edição não sofreu maiores atrasos.
O jovem Rafael não merecia morrer. São ridículas as afirmações que o condenam por estar andando de skate às duas da manhã. O responsável por sua morte deve ser julgado com todo rigor. Os policiais que quiseram lhe vender impunidade, também. Quem tentou comprá-la, idem. Mas, o tratamento dado ao caso pela imprensa mostra que a morte tem pesos diferentes na sociedade desigual em que vivemos.
Este mês, completaram-se os 20 anos do massacre de Acari e o 17º aniversário da matança na Candelária. No total, foram mortos 19 jovens e crianças. Todos pobres e pretos. Até hoje, ninguém foi responsabilizado. Em 23 de julho diversos movimentos sociais realizaram uma “Caminhada em Defesa da Vida”. Cerca de duas mil pessoas protestaram. No dia seguinte, a notícia sobre a manifestação ficou longe da capa de “O Globo”. Foi publicada na página 28. A edição não sofreu maiores atrasos.
O jovem Rafael não merecia morrer. São ridículas as afirmações que o condenam por estar andando de skate às duas da manhã. O responsável por sua morte deve ser julgado com todo rigor. Os policiais que quiseram lhe vender impunidade, também. Quem tentou comprá-la, idem. Mas, o tratamento dado ao caso pela imprensa mostra que a morte tem pesos diferentes na sociedade desigual em que vivemos.
28 de julho de 2010
A carapuça de Odorico
“O Bem Amado” é a cara de Guel Arraes. Ritmo perfeito e atores em ótima forma. Mas, lançado em plena campanha eleitoral, o filme pode ser objeto de interpretações paranóicas.
Governistas podem achar que Odorico e seu populismo demagógico representariam Lula. Já, os oposicionistas seriam representados pelo jornalista Vladimir. O personagem usa meios oportunistas e desonestos para se opor a Odorico.
O filme dá pouco espaço a esse tipo de interpretação. Sua pretensão parece ser a de servir como uma advertência contra corrupção política em geral.
Mas uma super-produção da Globo não chega ao grande público sem fortes intenções ideológicas. A maior delas é a banalização da política. A indiferença em relação à corrupção e negociatas de interesses. O sentimento de que todos são iguais em sua baixeza e desonestidade.
Algo que se reforça ainda mais num quadro em que as principais candidaturas mal conseguem explicar o que as diferencia. As eleições tornam-se uma dança das cadeiras. Um leilão para ver quem oferece o melhor lance pela estabilidade do sistema de dominação e exploração. Sendo assim, melhor deixar a política para os políticos.
Uma situação dessas é a mais confortável para os poderosos. É a política institucional como comédia, com resultados trágicos para os explorados. A estes caberia responder com sua própria política. Aquela construída em suas associações, sindicatos, partidos. Produto das lutas, manifestações, greves. Mas, estes instrumentos foram esvaziados pela “esquerda” que ocupa o poder temporariamente.
Nestas eleições, a burguesia está de camarote, segurando a carapuça de Odorico. São muitos os que se estapeiam para vesti-la.
Governistas podem achar que Odorico e seu populismo demagógico representariam Lula. Já, os oposicionistas seriam representados pelo jornalista Vladimir. O personagem usa meios oportunistas e desonestos para se opor a Odorico.
O filme dá pouco espaço a esse tipo de interpretação. Sua pretensão parece ser a de servir como uma advertência contra corrupção política em geral.
Mas uma super-produção da Globo não chega ao grande público sem fortes intenções ideológicas. A maior delas é a banalização da política. A indiferença em relação à corrupção e negociatas de interesses. O sentimento de que todos são iguais em sua baixeza e desonestidade.
Algo que se reforça ainda mais num quadro em que as principais candidaturas mal conseguem explicar o que as diferencia. As eleições tornam-se uma dança das cadeiras. Um leilão para ver quem oferece o melhor lance pela estabilidade do sistema de dominação e exploração. Sendo assim, melhor deixar a política para os políticos.
Uma situação dessas é a mais confortável para os poderosos. É a política institucional como comédia, com resultados trágicos para os explorados. A estes caberia responder com sua própria política. Aquela construída em suas associações, sindicatos, partidos. Produto das lutas, manifestações, greves. Mas, estes instrumentos foram esvaziados pela “esquerda” que ocupa o poder temporariamente.
Nestas eleições, a burguesia está de camarote, segurando a carapuça de Odorico. São muitos os que se estapeiam para vesti-la.
27 de julho de 2010
Ficha Limpa, jogo sujo
A lei conhecida como Ficha Limpa pode tornar-se arma perigosa contra os que lutam pelas causas populares. É o que está acontecendo com o candidato a vice-governador do PSOL de São Paulo. Trata-se de Aldo Santos, cuja candidatura foi impugnada ontem pela Procuradoria Regional Eleitoral.
Contra ele não há suspeita alguma de corrupção. Santos foi vereador em São Bernardo do Campo. Em 2003, seu mandato apoiou o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto durante a ocupação de um terreno. Uma atitude digna, de quem não abandona os que lutam. Por isso mesmo, está sendo perseguido.
Ao mesmo tempo, o deputado federal Zequinha Sarney (PV) teve sua candidatura à reeleição confirmada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Pelos critérios da nova lei, estaria impedido de concorrer. Mas, é de confiança dos poderosos. Por isso mesmo, foi deixado em paz.
Em São Paulo, a candidatura de Maluf (PP) pode ser impugnada. O candidato a governador de seu partido não se abala. Celso Russomano diz que conta com os votos dos malufistas. A nova geração desse tipo de político certamente está preparada para se aproveitar da velha tolerância em relação ao “rouba, mas faz”.
No Rio de Janeiro, os problemas atingem o vice de Serra. O deputado federal Índio da Costa (DEM) foi um dos relatores do projeto Ficha Limpa. Mas, está sendo investigado pela CPI da Merenda Escolar. Ele estaria envolvido em irregularidades cometidas quando era secretário municipal de César Maia. Sua candidatura está mantida por liminar judicial.
Não lavou, nem tá novo. Sujeira mesmo é o que estão fazendo com os lutadores sociais.
Contra ele não há suspeita alguma de corrupção. Santos foi vereador em São Bernardo do Campo. Em 2003, seu mandato apoiou o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto durante a ocupação de um terreno. Uma atitude digna, de quem não abandona os que lutam. Por isso mesmo, está sendo perseguido.
Ao mesmo tempo, o deputado federal Zequinha Sarney (PV) teve sua candidatura à reeleição confirmada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Pelos critérios da nova lei, estaria impedido de concorrer. Mas, é de confiança dos poderosos. Por isso mesmo, foi deixado em paz.
Em São Paulo, a candidatura de Maluf (PP) pode ser impugnada. O candidato a governador de seu partido não se abala. Celso Russomano diz que conta com os votos dos malufistas. A nova geração desse tipo de político certamente está preparada para se aproveitar da velha tolerância em relação ao “rouba, mas faz”.
No Rio de Janeiro, os problemas atingem o vice de Serra. O deputado federal Índio da Costa (DEM) foi um dos relatores do projeto Ficha Limpa. Mas, está sendo investigado pela CPI da Merenda Escolar. Ele estaria envolvido em irregularidades cometidas quando era secretário municipal de César Maia. Sua candidatura está mantida por liminar judicial.
Não lavou, nem tá novo. Sujeira mesmo é o que estão fazendo com os lutadores sociais.
26 de julho de 2010
Grito dos Excluídos: quando união e divisão se combinam
Alexander Torres Maia é secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso. Em 23 de julho, deu uma declaração publicada no jornal O Estado de São Paulo: “Em Rondolândia, um proprietário sozinho tem uma área de 300 mil hectares, maior que Portugal. Sem incentivo, ele pode colocar abaixo cerca de 60 mil hectares (quase duas vezes a área de Campinas).”
A declaração pretendia justificar a modificação do Código Florestal brasileiro. Na verdade, é uma confissão da vergonhosa concentração da propriedade de terras no Brasil.
Segundo o Atlas Fundiário do Incra, as pequenas propriedades rurais representam mais de 62% dos imóveis do País, mas ocupam menos de 8% da área total. Cerca de 3% dos imóveis são latifúndios e representam 56% das terras cultiváveis. Enquanto isso, as pequenas propriedades do campo empregam quase 75% da força de trabalho e produzem cerca de 60% dos alimentos.
Esses números dão ao Brasil o segundo lugar mundial em concentração de propriedade da terra. Ajudam a explicar o terceiro lugar ocupado pelo país entre os de pior distribuição de renda.
É por isso que dezenas de entidades populares, sindicatos, partidos, movimentos sociais estão promovendo o Plebiscito pelo Limite de Propriedade da Terra. Este é o tema do Grito dos Excluídos deste ano, organizado nacionalmente durante a Semana da Pátria.
Trata-se de uma campanha pela reforma agrária radical. Pela divisão da propriedade das terras e multiplicação da capacidade de gerar trabalho e renda. Para alcançar esse objetivo precisamos da união de todos os explorados contra os exploradores. Votos que valem a pena. Participe: http://www.limitedaterra.org.br.
A declaração pretendia justificar a modificação do Código Florestal brasileiro. Na verdade, é uma confissão da vergonhosa concentração da propriedade de terras no Brasil.
Segundo o Atlas Fundiário do Incra, as pequenas propriedades rurais representam mais de 62% dos imóveis do País, mas ocupam menos de 8% da área total. Cerca de 3% dos imóveis são latifúndios e representam 56% das terras cultiváveis. Enquanto isso, as pequenas propriedades do campo empregam quase 75% da força de trabalho e produzem cerca de 60% dos alimentos.
Esses números dão ao Brasil o segundo lugar mundial em concentração de propriedade da terra. Ajudam a explicar o terceiro lugar ocupado pelo país entre os de pior distribuição de renda.
É por isso que dezenas de entidades populares, sindicatos, partidos, movimentos sociais estão promovendo o Plebiscito pelo Limite de Propriedade da Terra. Este é o tema do Grito dos Excluídos deste ano, organizado nacionalmente durante a Semana da Pátria.
Trata-se de uma campanha pela reforma agrária radical. Pela divisão da propriedade das terras e multiplicação da capacidade de gerar trabalho e renda. Para alcançar esse objetivo precisamos da união de todos os explorados contra os exploradores. Votos que valem a pena. Participe: http://www.limitedaterra.org.br.
23 de julho de 2010
O bom humor poético de José Paulo Paes
L’affaire sardinha
O bispo ensinou ao bugre
Que pão não é pão, mas Deus
Presente em eucaristia.
E como um dia faltasse
Pão ao bugre, ele comeu
O bispo, eucaristicamente.
Bucólica
O camponês sem terra
Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas
A Clausewitz
O marechal de campo
Sonha um universo
Sem paz nem hemorróidas.
Auto-epitáfio nº 2
para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero
Epitáfio para um sociólogo
deus tem agora
um sério concorrente
Passarinho fofoqueiro
Um passarinho me contou
que a ostra é muito fechada,
que a cobra émuito enrolada,
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão marinho e a foca...
xô , passarinho! chega de fofoca
Cambronniana
A bom entendedor meia palavra: bos-
José Paulo Paes (1926-1998)
O bispo ensinou ao bugre
Que pão não é pão, mas Deus
Presente em eucaristia.
E como um dia faltasse
Pão ao bugre, ele comeu
O bispo, eucaristicamente.
Bucólica
O camponês sem terra
Detém a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas
A Clausewitz
O marechal de campo
Sonha um universo
Sem paz nem hemorróidas.
Auto-epitáfio nº 2
para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero
Epitáfio para um sociólogo
deus tem agora
um sério concorrente
Passarinho fofoqueiro
Um passarinho me contou
que a ostra é muito fechada,
que a cobra émuito enrolada,
que a arara é uma cabeça oca,
e que o leão marinho e a foca...
xô , passarinho! chega de fofoca
Cambronniana
A bom entendedor meia palavra: bos-
José Paulo Paes (1926-1998)
22 de julho de 2010
Político bom é o que rouba e faz
Beto Mansur (PP-SP) foi prefeito de Santos e é candidato à reeleição para deputado federal. Em 21/07, no jornal “A Tribuna”, Mansur reconheceu uma condenação por fraude em licitação. Respondeu que “isso é normal em grandes prefeituras”.
É nojento, mas Mansur sabe que não tem muito a temer. Conta com uma tradição que persiste na política eleitoral brasileira. São 60 anos de “rouba mas faz”, lema atribuído a Ademar de Barros durante os anos 50.
Em 2007, o Estudo Eleitoral Brasileiro revelou que 40% da população adulta consideram que "é melhor um político que faça muitas obras, mesmo que roube um pouco, do que um político que faça poucas obras e não roube nada".
Uma conclusão apressada seria a de que impera a desonestidade entre nós. Não é bem assim. Os calotes no comércio, por exemplo, caem quando sobe a capacidade de pagamento da população. Os resultados da pesquisa referem-se à vida pública. Uma esfera que, no Brasil, sempre foi o lugar em que a elite negocia abertamente a ampliação de seus privilégios.
É assim desde a colônia até hoje. Lula não recomendou fechar os olhos para as obras das Olimpíadas? A população sabe que a escolha nunca foi entre “quem rouba, mas faz” e “quem não rouba e faz”. Roubar é a constante. Fazer é a dúvida. Governar para os ricos, a certeza.
É importante eleger candidatos que denunciem e combatam esse círculo vicioso. Mas para dar-lhe um fim de vez, só acabando com a política profissional. Colocando o poder de cabeça pra baixo. A isso costuma chamar-se revolução social.
É nojento, mas Mansur sabe que não tem muito a temer. Conta com uma tradição que persiste na política eleitoral brasileira. São 60 anos de “rouba mas faz”, lema atribuído a Ademar de Barros durante os anos 50.
Em 2007, o Estudo Eleitoral Brasileiro revelou que 40% da população adulta consideram que "é melhor um político que faça muitas obras, mesmo que roube um pouco, do que um político que faça poucas obras e não roube nada".
Uma conclusão apressada seria a de que impera a desonestidade entre nós. Não é bem assim. Os calotes no comércio, por exemplo, caem quando sobe a capacidade de pagamento da população. Os resultados da pesquisa referem-se à vida pública. Uma esfera que, no Brasil, sempre foi o lugar em que a elite negocia abertamente a ampliação de seus privilégios.
É assim desde a colônia até hoje. Lula não recomendou fechar os olhos para as obras das Olimpíadas? A população sabe que a escolha nunca foi entre “quem rouba, mas faz” e “quem não rouba e faz”. Roubar é a constante. Fazer é a dúvida. Governar para os ricos, a certeza.
É importante eleger candidatos que denunciem e combatam esse círculo vicioso. Mas para dar-lhe um fim de vez, só acabando com a política profissional. Colocando o poder de cabeça pra baixo. A isso costuma chamar-se revolução social.
21 de julho de 2010
O falso feminismo de silicone
É costume dizer que o feminismo está morto. As mulheres teriam conquistado seu lugar ao sol. São maioria entre os trabalhadores, consumidores e eleitores. Há mulheres no parlamento e nos governos. Podem ser vista à frente de grandes empresas.
Quase tudo nessas afirmações é aparência. As mulheres são maioria no mercado de trabalho, mas de forma desigual. A maior parte dos postos de direção e gerência é ocupada por homens. Assim mesmo, os salários são sempre menores para elas.
No Congresso Nacional, parlamentos em geral e governos a visibilidade acontece exatamente porque a presença feminina continua rara. Nada rara é sua exposição como objetos em tudo isso. “Elas enfeitam o cenário”, dizem os machistas, na direção do espetáculo.
Não à toa o Brasil é líder mundial em cirurgias plásticas. Cerca de 70% delas são de caráter estético. Mais de 80% feitas em mulheres. Nos Estados Unidos e Europa, começa a fazer sucesso a labioplastia. Uma intervenção cirúrgica nos lábios vaginais. Grande parte delas nada tem a ver com correções necessárias à saúde.
É o novo machismo. Beleza e sensualidade seriam direitos conquistados pelas “mulheres emancipadas”. Além de cuidar da casa, dos filhos e ser competente na profissão, elas também têm que atender exigências impostas pelo mercado erótico.
Se isso pode ser massacrante para quem tem algum dinheiro, imagine para a grande maioria. Aquelas que mal conseguem comprar roupas novas.
Mulheres que denunciam essa situação são consideradas amargas, ressentidas, chatas. “Deixem disso” dizem os meios de comunicação. “Corram para os cirurgiões, cabeleireiros e liquidações. Rendam-se ao silicone e às próteses”. É o machismo cirurgicamente renovado pelos poderosos.
Quase tudo nessas afirmações é aparência. As mulheres são maioria no mercado de trabalho, mas de forma desigual. A maior parte dos postos de direção e gerência é ocupada por homens. Assim mesmo, os salários são sempre menores para elas.
No Congresso Nacional, parlamentos em geral e governos a visibilidade acontece exatamente porque a presença feminina continua rara. Nada rara é sua exposição como objetos em tudo isso. “Elas enfeitam o cenário”, dizem os machistas, na direção do espetáculo.
Não à toa o Brasil é líder mundial em cirurgias plásticas. Cerca de 70% delas são de caráter estético. Mais de 80% feitas em mulheres. Nos Estados Unidos e Europa, começa a fazer sucesso a labioplastia. Uma intervenção cirúrgica nos lábios vaginais. Grande parte delas nada tem a ver com correções necessárias à saúde.
É o novo machismo. Beleza e sensualidade seriam direitos conquistados pelas “mulheres emancipadas”. Além de cuidar da casa, dos filhos e ser competente na profissão, elas também têm que atender exigências impostas pelo mercado erótico.
Se isso pode ser massacrante para quem tem algum dinheiro, imagine para a grande maioria. Aquelas que mal conseguem comprar roupas novas.
Mulheres que denunciam essa situação são consideradas amargas, ressentidas, chatas. “Deixem disso” dizem os meios de comunicação. “Corram para os cirurgiões, cabeleireiros e liquidações. Rendam-se ao silicone e às próteses”. É o machismo cirurgicamente renovado pelos poderosos.
20 de julho de 2010
O racismo contra árabes
Na semana passada, o parlamento francês proibiu que mulheres muçulmanas usem véus que escondam seus rostos. Como justificativa, o combate à opressão feminina. Mas, os principais defensores da medida são setores conservadores e de extrema-direita.
A proibição atinge cerca de 0,1% das mulheres muçulmanas que vivem na França. Na verdade, são um alvo menor para atingir um objetivo maior: o fortalecimento da discriminação contra muçulmanos. É a chamada islamofobia.
Recentemente, o uso do véu também foi banido da Bélgica, regiões da Espanha e norte da Itália. Na Suíça, a construção de novas mesquitas foi proibida.
Esse tipo de mentalidade vem sendo construída há séculos. Pelo menos, desde as Cruzadas. Mais recentemente, vem recebendo a colaboração da indústria cultural.
É o que mostra o documentário “Filmes Ruins, Árabes Malvados: Como Hollywood transforma um povo em Vilão”. O filme de Jeremy Earp e Sut Jhally é baseado no livro "Reel Bad Arabs", de Jack Shaheen.
A produção denuncia como Hollywood criou uma imagem negativa dos árabes. Um povo formado basicamente por bandidos, loucos, ignorantes, terroristas. E são filmes a que todos assistimos inocentemente, como Indiana Jones, Aladim, De volta para o futuro, Duro de matar etc.
Tudo isso afeta o modo como as pessoas em geral enxergam conflitos como os ocorridos na Palestina, Faixa de Gaza, Iraque e Irã. A mentalidade comum está condicionada a ver nos árabes apenas loucura, maldade e violência.
Trata-se de mais uma das muitas formas de dividir os explorados na luta contra a burguesia. Esta sim, especialista em malícia, violência e terrorismo.
Leia também: Os vários racismos
A proibição atinge cerca de 0,1% das mulheres muçulmanas que vivem na França. Na verdade, são um alvo menor para atingir um objetivo maior: o fortalecimento da discriminação contra muçulmanos. É a chamada islamofobia.
Recentemente, o uso do véu também foi banido da Bélgica, regiões da Espanha e norte da Itália. Na Suíça, a construção de novas mesquitas foi proibida.
Esse tipo de mentalidade vem sendo construída há séculos. Pelo menos, desde as Cruzadas. Mais recentemente, vem recebendo a colaboração da indústria cultural.
É o que mostra o documentário “Filmes Ruins, Árabes Malvados: Como Hollywood transforma um povo em Vilão”. O filme de Jeremy Earp e Sut Jhally é baseado no livro "Reel Bad Arabs", de Jack Shaheen.
A produção denuncia como Hollywood criou uma imagem negativa dos árabes. Um povo formado basicamente por bandidos, loucos, ignorantes, terroristas. E são filmes a que todos assistimos inocentemente, como Indiana Jones, Aladim, De volta para o futuro, Duro de matar etc.
Tudo isso afeta o modo como as pessoas em geral enxergam conflitos como os ocorridos na Palestina, Faixa de Gaza, Iraque e Irã. A mentalidade comum está condicionada a ver nos árabes apenas loucura, maldade e violência.
Trata-se de mais uma das muitas formas de dividir os explorados na luta contra a burguesia. Esta sim, especialista em malícia, violência e terrorismo.
Leia também: Os vários racismos
19 de julho de 2010
Rédeas curtas para Dilma
Jornais e revistas da grande imprensa procuram desmoralizar Dilma a qualquer custo. A revista Veja, por exemplo, repetiu quase a mesma capa que usou em 23/10/2002 contra Lula. Naquela edição, a revista dizia que se o petista fosse eleito, quem governaria seriam os cães raivosos do PT.
Este ano, a edição de 14 de julho exibe um monstro de várias cabeças num fundo vermelho infernal. O subtítulo diz “A fera petista que Lula domou agora desafia a candidata Dilma”.
O fato é que monstros mesmo são gente como Collor, Renan e Sarney, cabos eleitorais de Dilma. Por outro lado, os ataques da mídia vêm a calhar para os governistas. É tudo o que eles querem para dizer que a candidatura petista é a alternativa dos explorados. Os fatos mostram o contrário. Nunca antes um governo de esquerda prestou tantos serviços ao grande capital no Brasil.
A grande mídia é a que menos tem do que reclamar. O governo Lula não mexeu uma palha para acabar com seu monopólio. Ao contrário, fez tudo o que pôde para mantê-lo. Mas se a candidatura petista está sendo atacada, não é apenas por ingratidão. Nem somente porque a mídia empresarial tem nojo dos pobres que apóiam Lula.
Os controladores da grande mídia são inteligentes. Sabem que quanto mais encostarem o PT contra a parede, mais ele cede. E que não basta apoiar Serra. Também é importante garantir que seus interesses continuem a ser protegidos, caso Dilma vença as eleições. Apostam em dois cavalos com chances parecidas de vitória. Mas um deles exige rédeas curtas.
Este ano, a edição de 14 de julho exibe um monstro de várias cabeças num fundo vermelho infernal. O subtítulo diz “A fera petista que Lula domou agora desafia a candidata Dilma”.
O fato é que monstros mesmo são gente como Collor, Renan e Sarney, cabos eleitorais de Dilma. Por outro lado, os ataques da mídia vêm a calhar para os governistas. É tudo o que eles querem para dizer que a candidatura petista é a alternativa dos explorados. Os fatos mostram o contrário. Nunca antes um governo de esquerda prestou tantos serviços ao grande capital no Brasil.
A grande mídia é a que menos tem do que reclamar. O governo Lula não mexeu uma palha para acabar com seu monopólio. Ao contrário, fez tudo o que pôde para mantê-lo. Mas se a candidatura petista está sendo atacada, não é apenas por ingratidão. Nem somente porque a mídia empresarial tem nojo dos pobres que apóiam Lula.
Os controladores da grande mídia são inteligentes. Sabem que quanto mais encostarem o PT contra a parede, mais ele cede. E que não basta apoiar Serra. Também é importante garantir que seus interesses continuem a ser protegidos, caso Dilma vença as eleições. Apostam em dois cavalos com chances parecidas de vitória. Mas um deles exige rédeas curtas.
16 de julho de 2010
EUA: as bruxas atacam Wall Street
“Conspiração Terrorista Internacional das Mulheres do Inferno”. Este é o nome de uma organização feminista surgida nos Estados Unidos, em 1968. Em inglês, “Women's International Terrorist Conspiracy from Hell”. O nome formava a sigla W.I.T.C.H., que, em inglês, quer dizer bruxa.
O W.I.T.C.H. surgiu do grupo “Mulheres Radicais”, que havia organizado um protesto durante um concurso de Miss América. Elas colocaram uma coroa de miss em uma ovelha para simbolizar a opressão sobre as mulheres que eventos como aquele significavam.
O livro “Uma história do povo dos Estados Unidos”, de Howard Zinn, cita brevemente algumas atividades desse coletivo feminista. Segundo o historiador, uma de suas ações mais famosas aconteceu na Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1968.
Elas apareceram vestidas de bruxas para denunciar as ações da United Fruit, empresa que representava o que há de pior no capital imperialista estadunidense. Principalmente nos países do “terceiro mundo”, onde a empresa comprava governos corruptos e financiava organizações contra-revolucionárias.
Desde então, a figura das bruxas foi adotada pelo movimento feminista. É uma referência à caça às bruxas, da Idade Média. Aquelas que ousavam desafiar a autoridade masculina eram acusadas de estarem possuídas pelo demônio. Foram mais de quatro séculos de perseguições a mulheres, principalmente na Europa.
Eram torturadas com crueldade, estupradas, mutiladas e queimadas vivas lentamente. Atualmente, a violência contra as mulheres já não é tão terrível. Mas as estatísticas mostram que ela continua. Em especial, contra aquelas que desafiam o machismo e lutam nas trincheiras da classe trabalhadora.
Leia mais em: A “caça às bruxas”: uma interpretação feminista
O W.I.T.C.H. surgiu do grupo “Mulheres Radicais”, que havia organizado um protesto durante um concurso de Miss América. Elas colocaram uma coroa de miss em uma ovelha para simbolizar a opressão sobre as mulheres que eventos como aquele significavam.
O livro “Uma história do povo dos Estados Unidos”, de Howard Zinn, cita brevemente algumas atividades desse coletivo feminista. Segundo o historiador, uma de suas ações mais famosas aconteceu na Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1968.
Elas apareceram vestidas de bruxas para denunciar as ações da United Fruit, empresa que representava o que há de pior no capital imperialista estadunidense. Principalmente nos países do “terceiro mundo”, onde a empresa comprava governos corruptos e financiava organizações contra-revolucionárias.
Desde então, a figura das bruxas foi adotada pelo movimento feminista. É uma referência à caça às bruxas, da Idade Média. Aquelas que ousavam desafiar a autoridade masculina eram acusadas de estarem possuídas pelo demônio. Foram mais de quatro séculos de perseguições a mulheres, principalmente na Europa.
Eram torturadas com crueldade, estupradas, mutiladas e queimadas vivas lentamente. Atualmente, a violência contra as mulheres já não é tão terrível. Mas as estatísticas mostram que ela continua. Em especial, contra aquelas que desafiam o machismo e lutam nas trincheiras da classe trabalhadora.
Leia mais em: A “caça às bruxas”: uma interpretação feminista
15 de julho de 2010
No ABC, aulas de sindicalismo de resultados
A Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo vai liberar seus trabalhadores para receber aulas sobre sindicalismo. A partir da semana que vem, o sindicato dos metalúrgicos do ABC dá início às primeiras turmas. É a primeira empresa a cumprir a convenção coletiva assinada em outubro de 2009. São cerca de 12 mil funcionários. Em breve, será a vez dos 4,5 mil trabalhadores da Ford.
Trinta e poucos anos atrás ocorreram as históricas greves que transformaram o ABC paulista no berço do chamado “sindicalismo autêntico”. De um lado, empresas como as citadas acima, apoiadas pela ditadura. De outro, sindicalistas ameaçados de prisão e tortura.
Parece estranho? Nem tanto. Ninguém nega a importância das lideranças daqueles movimentos. Foram responsáveis por atos heróicos contra a ditadura militar. Mas, o fato é que a maioria delas jamais quis romper com o capitalismo. Só queriam o Estado longe das negociações com os patrões.
Hoje, no ABC pagam-se os salários mais altos da indústria do País. Produto de muita luta, é certo. Mas, também da dinâmica capitalista, que faz da greve uma forma de valorizar o preço da força de trabalho sem questionar sua exploração. Por outro lado, os salários certamente subiram bem menos que os lucros que geraram.
O que está acontecendo no ABC não é uma vitória das lutas dos trabalhadores. É a rendição do sindicalismo à negociação de resultados. É a cara da Era Lula. Aliança com o capital para manter a exploração, torcendo para que as migalhas continuem chegando aos mais pobres.
Leia também:
Duas Conclats, dois caminhos
Trinta e poucos anos atrás ocorreram as históricas greves que transformaram o ABC paulista no berço do chamado “sindicalismo autêntico”. De um lado, empresas como as citadas acima, apoiadas pela ditadura. De outro, sindicalistas ameaçados de prisão e tortura.
Parece estranho? Nem tanto. Ninguém nega a importância das lideranças daqueles movimentos. Foram responsáveis por atos heróicos contra a ditadura militar. Mas, o fato é que a maioria delas jamais quis romper com o capitalismo. Só queriam o Estado longe das negociações com os patrões.
Hoje, no ABC pagam-se os salários mais altos da indústria do País. Produto de muita luta, é certo. Mas, também da dinâmica capitalista, que faz da greve uma forma de valorizar o preço da força de trabalho sem questionar sua exploração. Por outro lado, os salários certamente subiram bem menos que os lucros que geraram.
O que está acontecendo no ABC não é uma vitória das lutas dos trabalhadores. É a rendição do sindicalismo à negociação de resultados. É a cara da Era Lula. Aliança com o capital para manter a exploração, torcendo para que as migalhas continuem chegando aos mais pobres.
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14 de julho de 2010
Ficha Limpa: pela renovação na corrupção?
A lei da Ficha Limpa provocou uma enxurrada de pedidos pela impugnação de candidatos com problemas na Justiça Eleitoral. Segundo reportagem do Estadão de hoje, já são 1.614 contestações desse tipo. O Globo fala em mais de 2.300 pedidos.
A expectativa é de eleições mais limpas e livres de figuras famosas por sua impunidade. Por outro lado, a frustração pode ser grande. Há vários buracos na lei. A começar pela própria determinação constitucional que proíbe a punição de pessoas cuja culpa não foi provada em decisão judicial definitiva.
É preciso considerar que vários daqueles que estão tendo suas candidaturas questionadas dispõem de grande poder econômico. Podem pagar por serviços advocatícios eficientes o bastante para garantir suas candidaturas sob a proteção de seguidas liminares.
Mas, digamos que esta não seja a regra. Vamos imaginar que a maioria dos “sujos” fique de fora das eleições. Ainda assim, há algo de errado nesse quadro todo.
Por que tantos corruptos procuram a carreira política? A contestação da honestidade de tantos candidatos diz mais respeito a eles mesmos ou ao sistema político que tanto os atrai? Muitos deles tentam a reeleição ou o retorno a postos que já ocuparam. Não querem largar o osso.
Claro que manter esse tipo de gente longe dos parlamentos e governos é importante. Mas, será que o sucesso da lei da Ficha Limpa não significará apenas que chegou a hora de uma nova geração de corruptos. Pronta para ter suas imaculadas fichas devidamente emporcalhadas a peso de ouro? Que tal uma lei da Ficha Limpa para aqueles que corrompem os políticos? Eles costumam ter nomes famosos e CGC inscrito no Ministério da Fazenda.
A expectativa é de eleições mais limpas e livres de figuras famosas por sua impunidade. Por outro lado, a frustração pode ser grande. Há vários buracos na lei. A começar pela própria determinação constitucional que proíbe a punição de pessoas cuja culpa não foi provada em decisão judicial definitiva.
É preciso considerar que vários daqueles que estão tendo suas candidaturas questionadas dispõem de grande poder econômico. Podem pagar por serviços advocatícios eficientes o bastante para garantir suas candidaturas sob a proteção de seguidas liminares.
Mas, digamos que esta não seja a regra. Vamos imaginar que a maioria dos “sujos” fique de fora das eleições. Ainda assim, há algo de errado nesse quadro todo.
Por que tantos corruptos procuram a carreira política? A contestação da honestidade de tantos candidatos diz mais respeito a eles mesmos ou ao sistema político que tanto os atrai? Muitos deles tentam a reeleição ou o retorno a postos que já ocuparam. Não querem largar o osso.
Claro que manter esse tipo de gente longe dos parlamentos e governos é importante. Mas, será que o sucesso da lei da Ficha Limpa não significará apenas que chegou a hora de uma nova geração de corruptos. Pronta para ter suas imaculadas fichas devidamente emporcalhadas a peso de ouro? Que tal uma lei da Ficha Limpa para aqueles que corrompem os políticos? Eles costumam ter nomes famosos e CGC inscrito no Ministério da Fazenda.
13 de julho de 2010
O ECA e as penitenciárias mirins
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) faz 20 anos. Mais uma vez, os conservadores tentam mostrá-lo como uma lei de proteção a criminosos mirins. Como algo que não funciona. Ou funciona contra a “sociedade”.
Encontram um grande público disposto a acreditar nisso. Afinal, a grande imprensa costuma se referir ao Estatuto apenas quando relata crimes cometidos por crianças e adolescentes. E tais crimes estão longe de merecer tanta atenção.
Dados estatísticos mostram que no Brasil apenas 10% das infrações à lei são praticadas por crianças ou adolescentes. Deste total, 8% são crimes contra a vida. Mais de 70% têm como alvo o patrimônio, principalmente furtos.
Por outro lado, anualmente, 70 mil adolescentes e jovens brasileiros são mortos por causas externas. O dado é do Datasus e compreende principalmente homicídios. Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), os assassinatos representam 46% de todas as causas de mortes de brasileiros com idade entre 12 e 18 anos.
Enquanto isso, dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostram que entre 96 e 99, as internações de menores cresceram 102%. Em 2009, quase 17 mil crianças e adolescentes estavam internados contra pouco mais de 4.200 em 1996. E sabemos bem de que tipo de internação se trata. Em sua grande maioria, não passam de prisões comuns, e das piores.
Realmente, o ECA não tem funcionado. Principalmente, porque não foi colocado em prática. O que se faz em nome dele é encarcerar menores aos montes. Em especial, os pobres e negros.
Encontram um grande público disposto a acreditar nisso. Afinal, a grande imprensa costuma se referir ao Estatuto apenas quando relata crimes cometidos por crianças e adolescentes. E tais crimes estão longe de merecer tanta atenção.
Dados estatísticos mostram que no Brasil apenas 10% das infrações à lei são praticadas por crianças ou adolescentes. Deste total, 8% são crimes contra a vida. Mais de 70% têm como alvo o patrimônio, principalmente furtos.
Por outro lado, anualmente, 70 mil adolescentes e jovens brasileiros são mortos por causas externas. O dado é do Datasus e compreende principalmente homicídios. Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), os assassinatos representam 46% de todas as causas de mortes de brasileiros com idade entre 12 e 18 anos.
Enquanto isso, dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostram que entre 96 e 99, as internações de menores cresceram 102%. Em 2009, quase 17 mil crianças e adolescentes estavam internados contra pouco mais de 4.200 em 1996. E sabemos bem de que tipo de internação se trata. Em sua grande maioria, não passam de prisões comuns, e das piores.
Realmente, o ECA não tem funcionado. Principalmente, porque não foi colocado em prática. O que se faz em nome dele é encarcerar menores aos montes. Em especial, os pobres e negros.
12 de julho de 2010
Bruno e a imprensa de porta de cadeia
O caso do goleiro Bruno monopoliza a opinião pública. O jogador está sendo responsabilizado pelo possível assassinato de Eliza Samudio, com quem teria tido um filho, apesar de ser casado com outra mulher.
Tanta comoção poderia servir de alerta para a violência contra a mulher. Um grave problema social, que faz milhares de vítimas todos os anos. Graças à grande imprensa, isso não está acontecendo.
Os noticiários até citam estatísticas. São 10 mulheres mortas por dia no Brasil. Para explicar tanta violência, uns dois ou três especialistas são ouvidos. Alguns gráficos com dados estatísticos são mostrados. Mas a exposição de um quadro mais geral da questão perde feio para o melodrama montado em torno do caso.
São várias horas de reportagem gravadas em frente a delegacias e penitenciárias. Extensas reportagens sobre a infância do jogador, seus amigos e parentes. Inúmeros detalhes e especulações sobre a relação extra-conjugal.
Desse modo, a imprensa usa a árvore para esconder a floresta. Com isso, crescem as chances de interpretações conservadoras e até racistas. Afinal, Bruno é negro e de origem humilde. Pode ser tomado como exemplo da brutalidade que reinaria entre a população pobre. Algo que justificaria a violência e o desrespeito com que é tratada cotidianamente pelos órgãos públicos. Também fortalece a idéia extremamente machista de que mulheres como Eliza teriam feito por merecer a violência de que foram vítimas.
Trata-se do pior e mais desonesto tipo de jornalismo. O que parece ser simples relato dos fatos não passa de uma forma de estimular conclusões conservadoras por parte do público.
Tanta comoção poderia servir de alerta para a violência contra a mulher. Um grave problema social, que faz milhares de vítimas todos os anos. Graças à grande imprensa, isso não está acontecendo.
Os noticiários até citam estatísticas. São 10 mulheres mortas por dia no Brasil. Para explicar tanta violência, uns dois ou três especialistas são ouvidos. Alguns gráficos com dados estatísticos são mostrados. Mas a exposição de um quadro mais geral da questão perde feio para o melodrama montado em torno do caso.
São várias horas de reportagem gravadas em frente a delegacias e penitenciárias. Extensas reportagens sobre a infância do jogador, seus amigos e parentes. Inúmeros detalhes e especulações sobre a relação extra-conjugal.
Desse modo, a imprensa usa a árvore para esconder a floresta. Com isso, crescem as chances de interpretações conservadoras e até racistas. Afinal, Bruno é negro e de origem humilde. Pode ser tomado como exemplo da brutalidade que reinaria entre a população pobre. Algo que justificaria a violência e o desrespeito com que é tratada cotidianamente pelos órgãos públicos. Também fortalece a idéia extremamente machista de que mulheres como Eliza teriam feito por merecer a violência de que foram vítimas.
Trata-se do pior e mais desonesto tipo de jornalismo. O que parece ser simples relato dos fatos não passa de uma forma de estimular conclusões conservadoras por parte do público.
9 de julho de 2010
Você conhece os cronópios?
E os famas?
Ambos, mais as esperanças, são personagens do livro Histórias de Cronópios e Famas, do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984).
O que são? Quem são? Aí vão duas amostras. Leia e comece a descobrir.
História
Um cronópio pequenininho procurava a chave da porta da rua na mesa-de-cabeceira; a mesa-de-cabeceira no quarto de dormir, o quarto de dormir na casa, a casa na rua. Por aqui parava o cronópio, pois para sair à rua precisava da chave da porta.
A colherada estreita
Um fama descobriu que a virtude era um micróbio redondo e cheio de patas. Instantaneamente deu de beber à sua sogra uma grande colherada de virtude. O resultado foi horrível: essa senhora renunciou a seus comentários mordazes, fundou um clube para a proteção de alpinistas perdidos, e em menos de dois meses se comportou de maneira tão exemplar que os defeitos de sua filha, inadvertidos até então, passaram ao primeiro plano para grande sobressalto e assombro do fama. Não teve outro remédio senão dar uma colherada de virtude à sua mulher, que o abandonou nessa mesma noite por achá-lo grosseiro, insignificante e completamente diferente dos padrões morais que flutuavam rutilando perante seus olhos.
O fama refletiu largamente e afinal tomou ele próprio um frasco de virtude. Mas continuou da mesma maneira vivendo só e triste. Quando cruza na rua com a sogra ou a mulher, ambos se cumprimentam respeitosamente e de longe. Não ousam sequer se falar, tamanha é a sua perfeição respectiva e o medo que têm de contaminar-se.
Para saber mais: Cortázar, um eterno cronópio
Ambos, mais as esperanças, são personagens do livro Histórias de Cronópios e Famas, do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984).
O que são? Quem são? Aí vão duas amostras. Leia e comece a descobrir.
História
Um cronópio pequenininho procurava a chave da porta da rua na mesa-de-cabeceira; a mesa-de-cabeceira no quarto de dormir, o quarto de dormir na casa, a casa na rua. Por aqui parava o cronópio, pois para sair à rua precisava da chave da porta.
A colherada estreita
Um fama descobriu que a virtude era um micróbio redondo e cheio de patas. Instantaneamente deu de beber à sua sogra uma grande colherada de virtude. O resultado foi horrível: essa senhora renunciou a seus comentários mordazes, fundou um clube para a proteção de alpinistas perdidos, e em menos de dois meses se comportou de maneira tão exemplar que os defeitos de sua filha, inadvertidos até então, passaram ao primeiro plano para grande sobressalto e assombro do fama. Não teve outro remédio senão dar uma colherada de virtude à sua mulher, que o abandonou nessa mesma noite por achá-lo grosseiro, insignificante e completamente diferente dos padrões morais que flutuavam rutilando perante seus olhos.
O fama refletiu largamente e afinal tomou ele próprio um frasco de virtude. Mas continuou da mesma maneira vivendo só e triste. Quando cruza na rua com a sogra ou a mulher, ambos se cumprimentam respeitosamente e de longe. Não ousam sequer se falar, tamanha é a sua perfeição respectiva e o medo que têm de contaminar-se.
Para saber mais: Cortázar, um eterno cronópio
8 de julho de 2010
Lugar de lixo é nas empresas
Ontem, foi aprovada pelo Congresso a lei que cria uma política nacional de resíduos sólidos. Agora, vai para a sanção presidencial. Trata-se da regulamentação sobre o lixo. Um produto que a indústria capitalista nunca deixa faltar.
A produção mundial anual de lixo é de aproximadamente 400 milhões de toneladas. Estima-se que o Brasil seja responsável por 10% desse total!
Tudo isso é resultado do consumismo sem freios que produz pobreza no mesmo ritmo. Segundo a UNICEF, 45 mil crianças e adolescentes brasileiros sobrevivem da garimpagem do lixo. Catam embalagens, papel, latinhas para ajudar na renda de suas famílias.
Infelizmente, a lei aprovada ontem tem tudo para ser daquelas que “não pegam”. Ela proíbe lixões a céu aberto, por exemplo. Mas, a concentração fundiária no Brasil torna os preços da terra muito elevados. Isso aumenta muito o custo para construir lixões adequados.
Outra determinação é a obrigação de que fabricantes, distribuidores e comerciantes dêem destinação adequada aos produtos, após o uso pelo consumidor. Principalmente, pilhas, baterias, pneus e produtos eletrônicos. Um custo que as empresas não estão dispostas a arcar. É por isso que a regulamentação estava em debate há quase vinte anos.
Para os capitalistas o que importa é vender. Só querem saber de seus lucros e se lixam para o meio ambiente. Contam com a omissão dos governantes que ajudam a eleger com gordas doações eleitorais. Enquanto o sistema político funcionar desse modo, será muito difícil devolvermos o lixo para aqueles que são seus maiores produtores: as grandes empresas.
Dados do site Ambiente Brasil
A produção mundial anual de lixo é de aproximadamente 400 milhões de toneladas. Estima-se que o Brasil seja responsável por 10% desse total!
Tudo isso é resultado do consumismo sem freios que produz pobreza no mesmo ritmo. Segundo a UNICEF, 45 mil crianças e adolescentes brasileiros sobrevivem da garimpagem do lixo. Catam embalagens, papel, latinhas para ajudar na renda de suas famílias.
Infelizmente, a lei aprovada ontem tem tudo para ser daquelas que “não pegam”. Ela proíbe lixões a céu aberto, por exemplo. Mas, a concentração fundiária no Brasil torna os preços da terra muito elevados. Isso aumenta muito o custo para construir lixões adequados.
Outra determinação é a obrigação de que fabricantes, distribuidores e comerciantes dêem destinação adequada aos produtos, após o uso pelo consumidor. Principalmente, pilhas, baterias, pneus e produtos eletrônicos. Um custo que as empresas não estão dispostas a arcar. É por isso que a regulamentação estava em debate há quase vinte anos.
Para os capitalistas o que importa é vender. Só querem saber de seus lucros e se lixam para o meio ambiente. Contam com a omissão dos governantes que ajudam a eleger com gordas doações eleitorais. Enquanto o sistema político funcionar desse modo, será muito difícil devolvermos o lixo para aqueles que são seus maiores produtores: as grandes empresas.
Dados do site Ambiente Brasil
7 de julho de 2010
Aldo Rebelo: um anão a serviço de gigantes
Ontem, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre mudanças do Código Florestal Brasileiro foi aprovado na Câmara Federal. Trata-se de uma proposta que faz a alegria dos grandes desmatadores do País. Entre outras coisas, permite um período de cinco anos sem controle do desmatamento.
Outro problema relaciona-se à reserva legal. Trata-se de uma parte das propriedades rurais que deve ser preservada. Esta exigência acabaria para imóveis rurais com até quatro módulos fiscais. Rebelo diz que isso beneficiaria pequenos produtores. É mentira. A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) representa o segmento. A entidade luta por esse tipo de medida apenas em relação áreas com até um módulo fiscal. Acima disso, começam a valer os interesses do agronegócio.
É por isso que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) ficou feliz com a aprovação do relatório. Ela é presidente da Confederação Nacional da Agricultura e líder dos ruralistas no Congresso. Os maiores pilotos de moto-serra no País.
São os gigantes da destruição ambiental usando os pequenos agricultores como cortina de fumaça para seus negócios sujos. Mas, pequeno mesmo nisso tudo, tem sido Aldo Rebelo. Seu papel é vergonhoso. Alguém que se diz comunista defendendo os interesses dos latifundiários. Um dos piores setores de uma burguesia que nunca prestou. Eles se merecem.
Outro problema relaciona-se à reserva legal. Trata-se de uma parte das propriedades rurais que deve ser preservada. Esta exigência acabaria para imóveis rurais com até quatro módulos fiscais. Rebelo diz que isso beneficiaria pequenos produtores. É mentira. A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) representa o segmento. A entidade luta por esse tipo de medida apenas em relação áreas com até um módulo fiscal. Acima disso, começam a valer os interesses do agronegócio.
É por isso que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) ficou feliz com a aprovação do relatório. Ela é presidente da Confederação Nacional da Agricultura e líder dos ruralistas no Congresso. Os maiores pilotos de moto-serra no País.
São os gigantes da destruição ambiental usando os pequenos agricultores como cortina de fumaça para seus negócios sujos. Mas, pequeno mesmo nisso tudo, tem sido Aldo Rebelo. Seu papel é vergonhoso. Alguém que se diz comunista defendendo os interesses dos latifundiários. Um dos piores setores de uma burguesia que nunca prestou. Eles se merecem.
6 de julho de 2010
Drogas: das bocas aos bancos
O tabaco e o álcool são as drogas que mais matam. As drogas ilegais matam mais rápido, é verdade. Mas suas maiores vítimas são os que as comercializam. A maioria dos usuários de drogas ilegais é de classe média. Pode lançar mão de clínicas de reabilitação, ser for necessário. Já os traficantes, sabemos quem são, onde ficam e como morrem.
Em seu livro sobre Cidade de Deus, Paulo Lins diz que os moradores ficaram mais tranqüilos quando as drogas começaram a ser comercializadas no bairro. É que os criminosos pararam de assaltar e roubar seus vizinhos. Passaram a vender drogas para os playboys. Se eles queriam se envenenar, azar o deles.
Só não contavam com a ação da polícia e os efeitos de mercado. Os “homens da lei” passaram a cobrar para fechar os olhos ao comércio ilegal. A ilegalidade fez subir o preço das drogas e detonou uma guerra pelos pontos de venda. O resto, já se sabe. No tiroteio, as maiores vítimas estão entre os 98% de moradores que não usam e não comercializam drogas.
Isso é tudo o que os aparelhos de repressão querem. Um álibi para matar pobres sem chocar a “sociedade respeitável”.
Já os 300 bilhões de dólares anuais movimentados pelo comércio ilegal não ficam nos colchões dos traficantes. Circulam pelo sistema financeiro depois de devidamente lavados. E as transações eletrônicas encurtam e disfarçam o caminho entre as “bocas de fumo” e os bancos. É para isso que serve a ilegalidade das drogas.
Leia recente reportagem sobre o assunto: Bancos, lavagem de dinheiro e narcotráfico
Em seu livro sobre Cidade de Deus, Paulo Lins diz que os moradores ficaram mais tranqüilos quando as drogas começaram a ser comercializadas no bairro. É que os criminosos pararam de assaltar e roubar seus vizinhos. Passaram a vender drogas para os playboys. Se eles queriam se envenenar, azar o deles.
Só não contavam com a ação da polícia e os efeitos de mercado. Os “homens da lei” passaram a cobrar para fechar os olhos ao comércio ilegal. A ilegalidade fez subir o preço das drogas e detonou uma guerra pelos pontos de venda. O resto, já se sabe. No tiroteio, as maiores vítimas estão entre os 98% de moradores que não usam e não comercializam drogas.
Isso é tudo o que os aparelhos de repressão querem. Um álibi para matar pobres sem chocar a “sociedade respeitável”.
Já os 300 bilhões de dólares anuais movimentados pelo comércio ilegal não ficam nos colchões dos traficantes. Circulam pelo sistema financeiro depois de devidamente lavados. E as transações eletrônicas encurtam e disfarçam o caminho entre as “bocas de fumo” e os bancos. É para isso que serve a ilegalidade das drogas.
Leia recente reportagem sobre o assunto: Bancos, lavagem de dinheiro e narcotráfico
5 de julho de 2010
O óleo não para de vazar. Na Nigéria, há 50 anos
Desde abril, cerca de 2,5 milhões de galões de petróleo vazam por dia no Golfo do México. Na Nigéria coisa muito pior vem acontecendo há 50 anos. São 11 milhões de galões anuais. O mundo ignora.
Mais de 540 milhões de galões de petróleo foram derramados no Delta do rio Níger nas últimas cinco décadas. Comparado a isso o desastre provocado pela British Petroleum, nos Estados Unidos, poderia parecer brincadeira. Não é. Só mostra o desprezo da grande mídia pelo continente africano. E como o grande capital comete crimes em grande escala em todo o planeta.
Na Nigéria, como nos Estados Unidos, as áreas atingidas são formadas por pântanos e mangues. Um tipo de terreno que torna quase impossível a retirada do óleo. Além disso, a região atingida no país africano fornece 10% das importações de petróleo aos Estados Unidos. Também é responsável por 80% da produção nigeriana do combustível.
Nos dois lugares, quem mais sofre com os desastres são os pobres e trabalhadores da região. Sem falar na vida animal e vegetal. Nos Estados Unidos, a responsável é a BP. Na Nigéria, são principalmente Exxon e Shell. Em ambos os casos, podemos esperar pouca ou nenhuma responsabilização das poderosas companhias petrolíferas.
Lá e em todos os lugares do mundo, o capitalismo vem envenenando a vida na Terra. Este exemplo mostra que não basta ser apenas ecologista. A destruição ambiental não é causada pela humanidade em geral. É obra dos ricos e poderosos, principalmente. Por isso, é preciso ser ecossocialista.
Leia também: Vida artificial, câncer natural
Mais de 540 milhões de galões de petróleo foram derramados no Delta do rio Níger nas últimas cinco décadas. Comparado a isso o desastre provocado pela British Petroleum, nos Estados Unidos, poderia parecer brincadeira. Não é. Só mostra o desprezo da grande mídia pelo continente africano. E como o grande capital comete crimes em grande escala em todo o planeta.
Na Nigéria, como nos Estados Unidos, as áreas atingidas são formadas por pântanos e mangues. Um tipo de terreno que torna quase impossível a retirada do óleo. Além disso, a região atingida no país africano fornece 10% das importações de petróleo aos Estados Unidos. Também é responsável por 80% da produção nigeriana do combustível.
Nos dois lugares, quem mais sofre com os desastres são os pobres e trabalhadores da região. Sem falar na vida animal e vegetal. Nos Estados Unidos, a responsável é a BP. Na Nigéria, são principalmente Exxon e Shell. Em ambos os casos, podemos esperar pouca ou nenhuma responsabilização das poderosas companhias petrolíferas.
Lá e em todos os lugares do mundo, o capitalismo vem envenenando a vida na Terra. Este exemplo mostra que não basta ser apenas ecologista. A destruição ambiental não é causada pela humanidade em geral. É obra dos ricos e poderosos, principalmente. Por isso, é preciso ser ecossocialista.
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2 de julho de 2010
Brasil, Holanda e o Apartheid
O jogo de hoje mostra a persistência da divisão racial e social na África do Sul. Os mais ricos tendem a torcer pela seleção holandesa. A maioria deles é branca. Os mais pobres são quase todos negros. Quase todos devem torcer pelo Brasil.
A África do Sul foi colônia da Holanda. A língua mais falada no país é o africâner, que tem forte influência do idioma holandês. Apartheid significa separação em africâner. Era o nome da lei que justificava a dominação da minoria branca sobre a maioria negra.
Felizmente, o apartheid legal acabou em 1994. Graças às lutas do povo negro simbolizada por Nelson Mandela. No entanto, a separação real continua firme e forte.
Hoje, a África do Sul está entre os dez países com pior distribuição de renda no mundo, fazendo companhia ao Brasil. Em 1990, 38% da riqueza produzida ficavam com os empresários. Em 2005, essa proporção cresceu para 42%.
O número de pessoas vivendo em favelas cresceu 26% entre 1999 e 2001. Em 2005, quase 5% da população viviam nesse tipo de habitação. Uma em cada três pessoas em idade de trabalhar está desempregada. Surgiu uma pequena classe média negra. Mas 95% dos pobres continuam sendo negros.
O problema é que Mandela e seus aliados acabaram com o apartheid, mas não com o capitalismo. E este garante a continuação e o aprofundamento da injustiça social. Na África do Sul, o racismo continua forte e vence pela livre concorrência.
É pena. De qualquer jeito, vale a torcida contra a Holanda.
Leia também: Invictus: belas vitórias em batalhas perdidas
A África do Sul foi colônia da Holanda. A língua mais falada no país é o africâner, que tem forte influência do idioma holandês. Apartheid significa separação em africâner. Era o nome da lei que justificava a dominação da minoria branca sobre a maioria negra.
Felizmente, o apartheid legal acabou em 1994. Graças às lutas do povo negro simbolizada por Nelson Mandela. No entanto, a separação real continua firme e forte.
Hoje, a África do Sul está entre os dez países com pior distribuição de renda no mundo, fazendo companhia ao Brasil. Em 1990, 38% da riqueza produzida ficavam com os empresários. Em 2005, essa proporção cresceu para 42%.
O número de pessoas vivendo em favelas cresceu 26% entre 1999 e 2001. Em 2005, quase 5% da população viviam nesse tipo de habitação. Uma em cada três pessoas em idade de trabalhar está desempregada. Surgiu uma pequena classe média negra. Mas 95% dos pobres continuam sendo negros.
O problema é que Mandela e seus aliados acabaram com o apartheid, mas não com o capitalismo. E este garante a continuação e o aprofundamento da injustiça social. Na África do Sul, o racismo continua forte e vence pela livre concorrência.
É pena. De qualquer jeito, vale a torcida contra a Holanda.
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1 de julho de 2010
Projeto Ômega: banqueiros e governo unidos
Trata-se de transformar São Paulo num centro financeiro internacional, como Nova York e Londres. Seus defensores prevêem um enorme crescimento das atividades bancárias, do mercado de ações e derivativos. Não esperem o mesmo quanto a empregos. A crise que começou em 2008 atingiu Londres e Nova York em cheio exatamente por sua condição de cassinos financeiros. Se já não havia muitas oportunidades de empregos nesses lugares, a coisa só piorou.
O agravante aqui é a enorme desigualdade social do País. São Paulo já concentra grande parte da riqueza nacional. O projeto Ômega só vai piorar essa situação.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, é a favor. Mas fala em nome de todo o governo. Isso ficou bem claro na reunião do G20 no Canadá, semana passada. A representação brasileira foi contra a criação de uma taxa sobre fluxos de capitais internacionais. O pior foi a justificativa. Guido Mantega, ministro da Fazenda, disse que no Brasil “os bancos não criaram os problemas que criaram em outros países”.
Os bancos aqui instalados estão entre os que mais faturam no mundo. E lucram negociando papéis de uma dívida pública que paga os maiores juros do planeta. Isso só não cria problemas para a classe social a que Mantega anda servindo.
Quando até alguns ideólogos do capital desconfiam do cassino bancário, o governo Lula faz exatamente o contrário. Apóia a criação de uma ilha de especulação num mar de injustiça social.
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