Enquanto os ventos uivam no morro do capitalismo mundial, melhor falar um pouco de beleza.
É dela que trata a obra “As idéias estéticas de Marx”, de Adolfo Sánchez Vázquez, morto em julho passado. Neste livro, o filósofo marxista espanhol enfrenta a difícil relação entre a arte e o marxismo. Um tema que o stalinismo tratou com grosseria. Arte seria aquela a serviço do proletariado.
Contra tal concepção, Sánchez Vázquez resgata as idéias de Marx sobre arte. Afirma, por exemplo, que “o marxismo insistiu vigorosamente na natureza ideológica da criação artística”. Mas, sua expressão possui legalidade própria, dotada de coerência interna e autonomia relativa. Como disse Marx, é “criação segundo as leis da beleza”.
“A tese marxista de que o artista se acha condicionado histórica e socialmente (...) não implica de modo algum a necessidade de reduzir a obra a seus ingredientes ideológicos”, diz ele. Para Sánchez Vázquez, não se pode equiparar o valor estético do artista com o valor de suas idéias. A arte seria “a expressão do dilaceramento ou divisão social da humanidade”, mas, “revela uma vocação de universalidade". É por isso que “a arte grega sobrevive hoje à ideologia escravista de seu tempo”. Da mesma forma, a arte de nosso tempo sobreviverá a sua ideologia.
O filósofo espanhol considera que a redução da arte à ideologia atenta contra a própria essência da criação estética. Seria a redução do elemento particular presente na obra de arte “a seu agora e a seu aqui”. O universal humano não é o universal abstrato e intemporal, mas “o universal humano que surge no e pelo particular”.
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