Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia duas vezes. Em cada uma delas, houve duas cerimônias de posse. A primeira, celebrada segundo rituais indígenas. A segunda, no parlamento do País, seguindo formalidades herdadas do colonizador.
Os dois rituais mostram a dualidade do governo Evo. De um lado, a chegada ao poder a partir de um movimento popular vindo de baixo. De outro, esse mesmo poder domesticando as forças populares na figura de seu maior representante.
Essa contradição leva o governo a vários choques com sua base de sustentação. O episódio mais recente envolveu protestos contra a construção de uma rodovia que atravessará um milhão de hectares de território indígena. Obra financiada pelo capital brasileiro, vergonhosamente apoiada por Lula.
As manifestações aconteceram no domingo, 25/09. Foram violentamente reprimidas por tropas do governo. Quase 300 manifestantes foram presos. O que levou a novos protestos, incluindo a convocação de uma greve geral. A ministra da Defesa pediu demissão. Morales acabou suspendendo as obras temporariamente.
Tudo isso mostra os limites estreitos de conquistas feitas no campo da legalidade controlada pelos poderosos. A vitória de Evo desagradou a minoria branca, mas cobra um alto preço. O da adoção de uma lógica em que não há espaço para o respeito aos valores e interesses dos explorados.
A posse que realmente valeu não foi a que seguiu as tradições indígenas. O socialismo no século 21 é mais necessário do que nunca. De cima para baixo, jamais vai funcionar.
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