Há
um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece
preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos
esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter
esse aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de fatos que aparece
diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente
acumula ruínas sobre ruínas e as lança a seus pés. Ele gostaria de parar para
acordar os mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo que foi
destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que se enrodilha nas suas asas, e
que é tão forte que o anjo já não as consegue fechar. Esse vendaval arrasta-o
irresistivelmente para o futuro, para o qual está de costas, enquanto o monte
de ruínas à sua frente cresce até ao céu. Aquilo a que chamamos o progresso é
este vendaval. (Teses sobre filosofia da história – 1940)
Neste
exato momento, o olhar espantado do “anjo da história” também estaria voltado
para os indígenas brasileiros. Eles simbolizam as vítimas de um progresso que só
serve aos interesses de grandes grupos econômicos.
Também
causaria espanto ao anjo ver os governos cultuadores do “desenvolvimento” abrindo
caminho para o desrespeito a direitos e a destruição de culturas. Desprezando os
riscos de semear tempestades.
Que
seja como na música de Caetano: “Depois de exterminada a última nação
indígena”, o Índio virá. “Impávido que nem Mohammed Ali”. “Tranquilo e
infalível, como Bruce Lee”.
Leia
também: Diante dos índios, nossas vergonhas à mostra
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