As manifestações populares fazem
a disputa de hegemonia ferver. Todos tentam capitalizar a insatisfação que incendeia
as ruas. Mas hegemonia não é o mesmo que comando. É liderança construída pelo
convencimento e pela conquista do respeito dos liderados. E desrespeito a lideranças
é o que mais se sente nas ruas.
O governo federal falou muito,
mas o que disse era pouco e fraco. O Congresso aprovou algumas medidas simpáticas
que deverão ter poucos efeitos práticos. Governadores e prefeitos continuam
cancelando aumentos de passagens, mas precisariam fazê-lo em relação a vários anos
de reajustes muito acima da inflação.
A imprensa empresarial tenta
assumir a condição de porta-voz moralista da indignação popular. Só consegue
parecer ainda mais hipócrita e oportunista. Não à toa, milhares de vozes
continuam a gritar coros de ódio à grande mídia pelas ruas e praças.
As centrais sindicais convocam
manifestações, marchas e greves. Mas a maioria delas quer mesmo é defender o
governo. Acabam aparecendo como parte do esforços oficiais para acalmar a situação.
E a esquerda oposicionista mal consegue se diferenciar da governista. Felizmente,
a extrema direita também está longe de superar seu isolamento da grande maioria
dos manifestantes.
Mas nada disso quer dizer que
não haja algum tipo de hegemonia. É como um ruído de fundo. Um zumbido
ensurdecedor que acumula séculos de conservadorismo, desigualdade, racismo, violência
estatal. Não podemos desprezar a histórica competência de nossa classe dominante
para mudar aparências mantendo intacta a essência de sua dominação.
De qualquer modo, o povo nas
ruas ainda representa nossa melhor chance. É a temperatura ideal para lutar. E para
aprender.
Leia também: Dormindo, não! Só um cochilo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário