Valter Hugo Mãe escreveu um
livro sobre o apocalipse dos trabalhadores. Na verdade, sobre trabalhadoras a
dias, que é como se chamam às diaristas em Portugal. Mulheres à míngua, que é
como são as trabalhadoras em geral.
Representam o que há de mais
explorado e humilhado entre os que vivem das forças dos próprios braços. E
fazem de suas grossas pernas e largas ancas a vassoura e o esfregão. E limpam o
chão com as próprias roupas, anáguas, joelhos, dobradiças de dor.
Mulheres cujos maridos violam
como se lhes fizessem favor. E que cedem a um sexo com o patrão, tão consentido
quanto rendido. Que já não sabem a diferença entre encerar o assoalho e
deitar-se nele para um coito sem brilho. Que nunca fizeram amor. Jamais farão amor.
Nem mesmo o apocalipse chega
para essas mulheres fodidas, por que à portada do céu, São Pedro rabugento lhes
barra a entrada. Ficam à solta na praça fedida e cheia de camelôs que beira o
paraíso. São muitas e chegam cada vez mais. E as portas não se abrem.
A multidão feminina acumula-se
e muitas vêm de um lugar onde, a cada hora e meia, uma cai morta. E é terra
cheia de filhos bastardos, enjeitados, escuros e aflitos. Membros da família
amaldiçoada, escrava de um pequeno clã sagrado.
São fodidas essas mulheres e
nem o Juízo Final está disponível para elas.
Bao tarde Sérgio, Curto e grosso. Falou pouco mais falou tudo!
ResponderExcluirValeu!
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