Pior que a epidemia do Ebola é a onda de
preconceitos e racismo que a acompanha. Mesmo onde ela está longe de chegar, já
se cobram medidas que miram menos a doença que os possíveis doentes. Principalmente,
os negros.
As condições que fizeram surgir o Ebola na África
nada têm a ver com “atrasos tribais” ou “costumes primitivos”. É a ação da “civilização”
branca que destrói habitats e trouxe para perto dos seres humanos doenças que
estavam isoladas.
Mas a secular ideologia racista é imune a argumentações racionais. O pânico cria o preconceito. E este é alimentado
pela grande mídia e pelos governos para justificar mais controle e repressão
sobre as populações pobres.
Barack Obama acaba de declarar o Ebola “um grave
perigo para os Estados Unidos”. Pretende enviar tropas americanas à África com
o pretexto de apoiar o trabalho dos agentes de saúde internacionais. Ao mesmo tempo,
aprovou no Conselho de Segurança da ONU uma resolução que considera a epidemia uma
“ameaça à paz e à segurança internacionais”.
No caso do HIV, os homossexuais não eram as únicas vítimas
do vírus, mas tornaram-se o principal alvo dos preconceitos. A intolerância que
os isolou também impediu a prevenção e a pesquisa de medicamentos por muitos
anos.
Com o Ebola, o racismo se volta contra as
populações africanas. Os membros da cúpula da ONU dizem que é preciso impedir que
a doença se espalhe. Na verdade, pretendem isolar a epidemia na África. Nem que
isso custe a vida de milhões de africanos. Pela ação do vírus, mas também pela força
das armas.
Leia também: O Ebola e a pior das epidemias
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