O poema abaixo é “Trabalhadores do Brasil”, de autoria de Marcelino Freire. Foi
publicado no livro “Contos Negreiros”, em 2005.
Os versos fortes já foram musicados pela banda “Cordel do Fogo Encantado” e declamados pelo próprio autor no mais recente CD de Emicida. Citando lideranças e entidades sagradas do povo preto brasileiro, eles dizem muito sobre a opressão e a exploração classista e racista insistentemente presente no cotidiano da maior parte de nossa população.
Os versos fortes já foram musicados pela banda “Cordel do Fogo Encantado” e declamados pelo próprio autor no mais recente CD de Emicida. Citando lideranças e entidades sagradas do povo preto brasileiro, eles dizem muito sobre a opressão e a exploração classista e racista insistentemente presente no cotidiano da maior parte de nossa população.
Enquanto Zumbi trabalha cortando cana
Na zona da mata Pernambucana
Oloroke vende carne de segunda, a segunda
Ninguém vive aqui com a bunda preta pra cima
Tá me ouvindo bem?
Enquanto a gente dança no bico da garrafinha
Odé trabalha de segurança
Pegando ladrão que não respeita
Que não ganha o pão que o Tição amassou honestamente
Enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente
Não levanta um saco de cimento
Tá me ouvindo bem?
Enquanto o Olorum trabalha como cobrador de ônibus
Naquele transe infernal de trânsito
Ossaim sonha com um novo amor
Pra ganhar um passe ou dois
Na praça turbulenta do Pelô
Fazer sexo oral, anal, seja lá com quem for
Tá me ouvindo bem?
Enquanto rainha Quelé
Rainha Quelé limpa fossa de banheiro
São Bongo bungo na lama
Isso parece que dá grana, porque povo se junta
E aplaude São Bongo na merda
Pulando de cima da ponte
Tá me ouvindo bem?
Tá me ouvindo bem?
Tá me ouvindo bem?
Ein, ein, ein? Seu branco safado!
Ninguém aqui é escravo de ninguém!
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