Orlando Zaccone é delegado da Polícia Civil do Rio de
Janeiro. Conhecido por sua militância pela legalização das drogas, ele concedeu
uma interessante entrevista que foi publicada no livro “Desmilitarizaçãoda polícia e da política: uma resposta que virá das ruas”.
Seu depoimento apresenta uma distinção importante entre justiça
e punição: “Quando pensamos na justiça, pensamos na modificação de uma ordem
injusta”. Fazer justiça, portanto, implica combater uma situação de
desequilíbrio. E a mera punição, sem elementos educativos, só mantém ou aprofunda
esse desequilíbrio.
É por isso, por exemplo, que as penas previstas pela lei
devem ser não apenas proporcionais ao crime cometido como acompanhadas de medidas
de reintegração social. Medidas que não beneficiariam apenas o condenado, mas também
a sociedade, que o receberia de volta como cidadão.
Em condições ideais, esse já é um processo difícil. Mas
fica muito pior em cadeias superlotadas, governadas pela lei do mais forte e
onde praticamente inexistem programas de readaptação social. Sem falar num
sistema que, muitas vezes, prende sem condenação formal.
É importante levar em conta esse contexto no debate sobre
a redução da maioridade penal. A grande maioria de seus defensores quer punições
tão duras para infratores jovens como as destinadas aos criminosos adultos.
Ocorre que o desequilíbrio original não nasce do ato
infracional, mas do acesso precário a direitos como saúde, educação, lazer,
cultura. Responder a essas carências com mera punição apenas realimenta os
mecanismos de injustiça.
Reduzir meninos e meninas à condição de objeto de castigo
significa antecipar sua perda para a vida social e confirmar mais uma vez o
fracasso de nossa sociedade.
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