No sistema judiciário brasileiro, não é preciso ser
criminoso para parar na cadeia. Muitas vezes, é suficiente ser pobre e preto. E
sem julgamento.
Por outro lado, basta que o meliante seja rico para que a
prisão represente um mal menor, a ser remediado com advogados muito bem pagos e
juízes pouco rigorosos.
Os estudiosos do sistema penal dizem que a privação da
liberdade tornou-se pena máxima com a consolidação da sociedade burguesa.
Antes, com servidão, escravidão e outras formas de
cativeiro, o bem maior de que o delinquente podia ser privado era sua
integridade física: mutilações, esquartejamentos, a morte.
Agora, quando a ideologia dominante afirma que “somos
todos livres e iguais” perante a lei, o maior castigo possível é a privação do
direito de ir e vir.
A desmentir essas teses, alguns poucos bilionários foram condenados
a desfilar de tornozeleiras eletrônicas pelos bairros chiques de sua cidade. Foram
sentenciados a ficar encerrados em seus casarões luxuosos, com piscinas, quadras
esportivas e uns 10 empregados.
É mais ou menos o caso de Fernando Cavendish, o dono da
empreiteira Delta Construções. Ele vem respondendo a processos por fraudes em
obras contratadas pelo governo do Rio de Janeiro, sob a gestão de Sérgio Cabral.
Entre elas, a reforma do Maracanã e o Arco Metropolitano.
Segundo o que disse Elio Gaspari em sua coluna de 23/10,
no Globo, alguém teria perguntado a Cavendish:
–Você
não tem medo de acabar preso?
–Não.
O que eu tenho medo é de ficar pobre.
Real ou não, o diálogo tem cheiro de verdade. Mas fede tanto
que nem um lava-jato dá jeito.
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