O fetichismo atribui poderes sagrados a certos objetos. Isso
vale tanto para o patuá afro-religioso como para o crucifixo cristão. E, segundo
Marx, para a mercadoria na sociedade capitalista.
O direito ao voto nas eleições políticas também pode
ganhar esse caráter. Mais especificamente, em sua manifestação como sufrágio
universal.
Por meio dele a prosperidade geral estaria ao alcance de
mulheres e homens adultos e em dia com as leis.
Eis porque muita gente confere tanta dramaticidade a resultados
eleitorais à esquerda ou à direita, ou a votos anulados ou invalidados.
O fetichismo também pressupõe uma inversão. Objetos que
são produzidos por mãos humanas passam a dominar a vida de seus criadores.
Por exemplo, direitos e conquistas históricas dos
trabalhadores e população em geral seriam resultado da democracia
representativa, forma sagrada do sufrágio ecumênico.
Portanto, uma boa medida sobre quão longe chegou uma
democracia seria a adoção do sufrágio universal. Em especial, do voto feminino.
Segundo esse critério, no entanto, a grande maioria dos
países só chegou à plenitude democrática a partir de meados do século passado.
Um exemplo flagrante é a França. No berço da democracia
burguesa, as mulheres puderam votar apenas em 1944. Logo ali, ao lado, suíças e
espanholas só conseguiram garantir esse direito nos anos 1970.
E é assim que se revela o fetichismo que cerca o voto.
Foram as seculares e sangrentas lutas dos explorados e oprimidos que arrancaram
inúmeras conquistas às classes dominantes, incluindo o sufrágio generalizado.
Não o contrário.
Desfazer essa inversão é uma das condições iniciais para
qualquer pretensão à necessária subversão de uma sociedade profundamente
injusta e antidemocrática.
Leia também: Sobre os truques dos ilusionistas do
poder
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