Doses maiores

16 de janeiro de 2018

O novo individualismo já tem alguns séculos

Anthony Elliott é professor de sociologia das universidades South Australia e Keio, no Japão. Em 31/12, publicou artigo na Folha discutindo um novo tipo de individualismo.

Segundo ele, o individualismo atual “nos encoraja a mudar tão completa e tão rapidamente que nossas identidades se tornam descartáveis”.
                                    
Ele cita o filósofo e escritor estadunidense Don DeLillo, para quem:

...o capitalismo mundial gera transformações à velocidade da luz, não só em termos do movimento súbito de fábricas, migrações em massa de trabalhadores e transferências instantâneas de capital líquido, mas em “tudo, da arquitetura ao tempo de lazer, à maneira pela qual as pessoas comem, dormem e sonham”.

Ora, em 1848, o Manifesto Comunista já afirmava que a burguesia “não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção, e com isso, todas as relações sociais”.

Em relação ao mundo “profissional”, Elliott afirma:

A morte da ideia de uma carreira (uma vida de trabalho) desenvolvida dentro de uma só organização foi interpretada por alguns como sinal de uma nova economia —flexível, móvel, operando em rede. O financista e filantropo internacional George Soros argumenta que transações tomaram o lugar dos relacionamentos na economia moderna.

As transações que tomam o lugar dos relacionamentos identificadas por Soros continuam a movimentar mercadorias, ainda que, atualmente, muitas delas nem existam e circulem por meio de pulsos eletrônicos.

O conceito de “fetichismo da mercadoria” apresentado em “O Capital” diz algo muito parecido. É a relação entre as mercadorias ocupando o lugar da relação entre as pessoas.

Soros, DeLillo e Elliott poderiam dar os devidos créditos a Marx e Engels. 

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