Doses maiores

29 de junho de 2020

Ideais nazistas continuam a prosperar nos locais de trabalho

No livro “Livres para obedecer”, o historiador francês Johann Chapoutot mostra como o moderno gerencialismo empresarial foi fortemente influenciado por ideólogos nazistas.

É o caso da ideia de que trabalhadores devem ser vistos como colaboradores de seus patrões. Seriam todos companheiros e não inimigos de classe. Afinal, todos faziam parte da grande comunidade racial germânica, pura e superior.

Terminada a guerra, já na Alemanha Ocidental, a retórica ariana desapareceu, mas manteve-se a ideia da necessidade de ampla participação da força de trabalho na gestão da produção. Era preciso evitar conflitos de classe que pudessem facilitar a pregação comunista.

Um dos principais ideólogos desse modelo era Reinhard Höhn, ex-oficial da SS e general do exército derrotado. Justus Beyer e Franz-Alfred Six eram outros desses altos oficiais nazistas. Convertidos em professores de marketing, trabalhavam tranquilamente para os defensores do “mundo livre”.

Foi desse modo que na Alemanha e na Europa formaram-se redes de solidariedade entre ex-integrantes da SS, permitindo-lhes ajudar nos esforços para garantir um retorno lucrativo aos capitais investidos pelos países aliados nas economias destruídas.

Nos escritos de Höhn já não havia mais qualquer traço de antissemitismo e racismo. Porém, restava uma ideia fundamental: a vida é uma guerra também no terreno da produção industrial.

Os nazistas não criaram essa concepção. Apenas a herdaram do darwinismo social, militar, econômico e racista surgido no século 19 junto com o capitalismo industrial. Mas foram eles que a levaram ao auge em sua corrida insana por mais produção e dominação.

Derrotado nos campos de batalha, o nazismo perdeu seus uniformes e símbolos, mas continua prosperando nos locais de trabalho.

Leia também: Modernos métodos gerenciais têm raízes nazistas

2 comentários:

  1. Que bom, muito interessante essa Pílula. Essa ideia de colaborador nunca me agradou, sempre achei que era uma enganação. Trabalhei muitos anos na área de recursos humanos, imagine como ela soava avançada. Completa inversão de ser uma ideia de inspiração nazista, soava como muito menos autoritária.
    Agora, o que chama a atenção é de como os nazistas tinham quadros capacitados, independente dos seus valores éticos. Nas artes, comunicação, estratégia, enfim, em um monte de áreas do conhecimento humano, tinham pessoas com grande conhecimento. Muito diferente do nazismo atual internacional e ainda mais o nosso nacional.

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    1. Imagino que os quadros nazistas fossem bem medíocres perto dos grandes nomes da tradição intelectual alemã, mas mesmo assim superiores a seus equivalentes de outros países.

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